Título: Jovens demais para vender
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2008, EU & Investimentos, p. D1

Muitos investidores fizeram sua estréia no mercado acionário recentemente comprando papéis em ofertas iniciais de abertura de capital, os IPOs na sigla em inglês. Esse movimento foi mais forte no ano passado, quando excelentes condições de mercado no Brasil e no exterior provocaram um tsunâmi de ofertas, muitas delas com ganhos elevadíssimos logo na estréia dos papéis, trazendo certa euforia entre investidores novatos. Neste ano, porém, até dia 19 de março, das 64 ações que estrearam em 2007, apenas 18 subiam e somente oito estavam melhor que o Índice Bovespa - considerando as que caíam menos. E muitos investidores começam a demonstrar os sinais claros de ressaca, cheios de arrependimentos pelos excessos e pensando já em vender os papéis.

Falando de maneira geral, desfazer-se dos papéis neste momento pode ser tão ruim quanto tê-los comprado no embalo das ofertas, alertam analistas. A razão é simples: o mercado está em um de seus piores momentos de baixa e quem vender receberá o pior preço possível. Ao mesmo tempo, o vendedor perderá uma eventual recuperação que os analistas esperam que possa ocorrer ainda este ano.

Estudo feito pelo Valor com as 47 ações novatas veteranas, que estrearam na bolsa de 2004 para cá e que já completaram pelo menos 12 meses de pregão, pode dar um pouco mais de alento para os donos de ações de IPOs. Olhando períodos diferentes após a oferta - um mês, três, seis, 12 meses até agora -, o que se percebe é que a maioria está acima do preço de emissão. Até a Renar Maçãs, uma operação polêmica por conta de seu tamanho diminuto, apresenta ganho de 28% sobre o valor da oferta, realizada em fevereiro de 2005 (para 111% do Ibovespa), depois de ter caído 55% nos 12 primeiros meses. Somente duas empresas da lista ficam em queda em todos os períodos pesquisados, CSU Cardsystem e Tecnisa.

Olhando no curto prazo, o primeiro mês de negociação, das 47 empresas, 34 subiram, 11 caíram e duas ficaram estáveis, sendo que 29 tiveram desempenho melhor que o Ibovespa. Em um período mais longo, de 12 meses, o número de empresas em alta sobe para 37, com 25 melhores que o Ibovespa. Já pegando as cotações de 17 de março, apesar de toda crise, 34 estão acima do preço de lançamento, sendo que apenas 16 superam o Ibovespa - em boa parte porque o índice andou muito mais, favorecido pela força de Petrobras e Vale. Se a referência for este ano, porém, só sete papéis dos 47 sobem, mas 12 se saem melhor que o Ibovespa.

O que se poderia concluir desses números é que a maioria dos IPOs, em um prazo maior, apresenta ganhos, feitas as devidas ressalvas com relação ao período de análise ainda curto. Sete empresas apresentam queda no primeiro mês, mas chegam a março deste ano em alta: Gol, CPFL Energia, Renar, B2W, ABNote, BrasilAgro e PDG Realty. Outras 18 aumentaram os ganhos do primeiro mês até março. Algumas têm movimento contrário, iniciando o primeiro mês em alta e depois perderam fôlego, caso de dez empresas da amostra. São movimentos que refletem as condições de mercado no momento da pesquisa e, em parte, de fatores particulares das empresas.

No ano passado, os mercados subiram com força, mesmo depois da queda expressiva de agosto, batendo recordes aqui e no exterior, lembra Walter Mendes, responsável pela área de Renda Variável do Banco Itaú. "Havia demanda de grandes investidores estrangeiros procurando diversificar suas carteiras, movimento reforçado pela entrada de novos compradores, da Ásia e do Oriente Médio", diz. Eles não conheciam bem o Brasil e viram nas ofertas oportunidades de comprar grandes lotes de uma só vez, mesmo pagando preços acima do razoável. Mas, no segundo semestre, muitos estrangeiros começaram a se desfazer das novatas.

Não é o momento, porém, de vender ações ilíqüidas, afirma Mendes, acrescentando que, se o investidor segurou até agora, pode ser melhor esperar o mercado voltar um pouco. Antes de vender, é preciso olhar cada caso, para ver o que está sendo esperado pelos analistas para o papel e o que ele mostrou até agora. "As que não entregaram o que prometeram vão demorar mais para se recuperar."

A queda das novatas afetou o retorno de alguns fundos de ações este ano, diz Ronaldo Patah, responsável pela área de renda variável da Unibanco Asset Management (UAM). Mesmo assim, os fundos da UAM aumentaram suas aplicações em alguns papeís recentemente, apostando na recuperação. "Fizemos isso com a Positivo Informática", afirma. Mas ele admite que nem todas as empresas novatas são bom negócio e orienta o investidor a procurar ajuda para reavaliar a aplicação, sem se precipitar. "Muita coisa ruim já foi incorporada ao preço e a tendência agora é de recuperação", diz.

Patah diz que o investidor deve olhar para frente e ver as perspectivas para as empresas. Mesmo aquelas cujos resultados não foram tão bem quanto o esperado podem ser beneficiadas dentro do processo de consolidação que se espera em vários setores, como o de construção, e até nas bolsas, onde Bovespa e BM&F negociam uma união que pode dar novo fôlego aos papéis no curto prazo.

A onda de ofertas no ano passado não foi euforia, mas reflexo da melhora da economia brasileira, que apresentava excelentes perspectivas de crescimento, diz João Batista Fraga, diretor de Relações com Empresas da Bovespa. Fraga atribui a queda recente dos preços das ações novatas à venda de estrangeiros que precisam cobrir perdas em seus países de origem. Ele defende que só se poderá avaliar o resultado das ofertas daqui a cinco anos pelo menos.

Uma parte da queda das ações novatas é provocada pela decepção dos investidores com a governança ou os resultados das empresa, avalia Fabio Carvalho, sócio da Orbe Investimentos. "Algumas não passaram informações corretamente aos investidores sobre projetos que não deram certo, coisa de empresa fechada que não mudou de atitude após abrir o capital."