Título: Governo vigia risco de descompasso entre oferta e demanda
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 25/03/2008, Brasil, p. A9

Ruy Baron/Valor Guido Mantega, ministro da Fazenda: "Se o setor financeiro disser que tem capital para alavancagem, fico tranqüilo" A equipe econômica começa a dar sinais, cada vez mais freqüentes, de que está monitorando com atenção o ritmo de aumento do consumo na economia brasileira. E que prefere a garantia de um ritmo moderado se a alternativa for um crescimento forte, mas desordenado. Por isso, preocupado com a demanda, o governo vai estimular o investimento de maneira horizontal para que as empresas possam elevar a capacidade produtiva e atender à demanda de maneira sustentada. Como parte deste monitoramento, o governo está promovendo uma série de encontros com representantes de diferentes segmentos industriais e do mercado financeiro para detectar eventuais descompassos entre demanda e oferta. De acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, os setores que precisam de mais ajuda para aumentar seus investimentos terão mais apoio.

"Prefiro um crescimento menor, de 5% ou 5,5% ao ano por dez, quinze ou vinte anos a um rompante que tem de ser abortado em função de desequilíbrios que possam acontecer", comentou. Ele alertou que o crédito é um dos fatores importantes para o ritmo maior da demanda doméstica, mas avisou que o governo não quer uma aceleração excessiva de um desses fatores. Como exemplo, citou que, em janeiro e fevereiro, o crédito continuou crescendo 25%. Portanto, nessa visão, é melhor ter crescimento moderado para preservar o equilíbrio.

Mantega avalia que, no primeiro trimestre, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve ficar entre 5,5% e 6%, mas alguns setores apresentam taxas muito maiores como, por exemplo, 15%, 20% e 25%. E é esse ritmo muito mais intenso em alguns segmentos que preocupa a equipe econômica. O governo quer saber se eles têm capacidade para atender à demanda. Vários representantes de associações setoriais - automóveis, aço e cimento - estão sendo ouvidos. Amanhã será a vez da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

O ministro quer saber se as instituições financeiras estão concedendo crédito de maneira "segura e sustentável". Ele ponderou, porém, que os bancos são muito prudentes no Brasil. "Prova é o fato de eles não estarem envolvidos na crise do mercado americano".

"Acredito que não deve mudar o comportamento do consumidor. Apenas vamos saber se os bancos estão agindo de forma responsável. Então, não deve haver nenhuma preocupação, nenhuma atitude do consumidor. Ele vai continuar tendo oportunidade de comprar bens de consumo duráveis, televisores, geladeiras, automóveis, todos os bens que estão sendo consumidos pelos brasileiros", afirmou Mantega.

O ministro disse que o governo não prepara medidas específicas de restrição ao crédito, declaração semelhante àquela feita antes de serem divulgadas as recentes medidas cambiais, também negadas pelo ministro. Ontem, Mantega disse que não pensa em definir um teto para o pagamento de empréstimos, mas admitiu que prazos muito longos, 90 parcelas mensais, por exemplo, poderiam ser evitados. "Se o setor financeiro disser que tem capital para alavancagem, fico tranqüilo", disse.

Mantega reconheceu que preocupa o fato de alguns setores estarem crescendo sem investimento suficiente para atender ao aumento da demanda, mas, ao mesmo tempo, disse que a inflação não é preocupante. Ele evitou comentar a necessidade de o Banco Central aumentar os juros, limitando-se a afirmar que o índice está no centro da meta (4,5%). "Não vejo risco de inflação para 2009 e 2010. Estamos nos antecipando. Espero mais investimento da indústria automotiva, da siderurgia e dos fabricantes de cimento. Vamos ajudá-los nisso. É uma preocupação positiva, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos e Europa. Lá, o temor é de recessão", comparou.

Na avaliação do ministro, o país não está vivendo um processo inflacionário preocupante. Nessa análise, a pressão vem de fora, por meio das commodities agrícolas. Mas, nesse caso, os preços já estão cedendo e a safra que chegará logo ao mercado vai ajudar ainda mais. "Os setores não estão aumentando suas margens de lucro. A preocupação é com o futuro", ressaltou.