Título: PT convoca Pimentel para justificar aliança em BH
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 25/03/2008, Brasil, p. A11

Berzoini com Cardoso, na reunião do diretório, põe freio na aproximação PT-PSDB: "São programas antagônicos. Se não convencer, está proibida a aliança" O Diretório Nacional do PT, reunido na tarde de ontem, jogou um balde de água fria nas pretensões do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), unir-se ao governador do Estado, Aécio Neves (PSDB), em busca de uma candidatura única à Prefeitura de Belo Horizonte.

O diretório remeteu à uma reunião da Executiva nacional do partido, na próxima segunda-feira a aprovação da coligação. Desta reunião, participarão, além de Pimentel e dos dirigentes do diretório de Belo Horizonte e de Minas, os mineiros com assento no Diretório Nacional. São oito, entre os quais os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), ambos contrários à aliança com os tucanos. Procurado pelo Valor, Pimentel disse que só vai se pronunciar hoje sobre a decisão do diretório.

"Não é simplesmente uma candidatura, mas a tese de que é possível uma aliança futura entre PT e PSDB. São programas antagônicos para o país. Se não convencer, está proibida a aliança", justificou o presidente do partido, Ricardo Berzoini. A candidata petista à Prefeitura de Porto Alegre, Maria do Rosário, disse que na reunião do diretório não houve um único integrante a defender a aliança. O diretório é composto por 83 petistas, dos quais oito mineiros. Estavam presentes a deputada federal Maria do Carmo Lara, o secretário decomunicação do partido, Gleber Najme, e secretário de assuntos institucionais, Romênio Pereira. Dulci e Patrus não compareceram.

Petistas presentes à reunião de ontem demonstraram incômodo com o que consideraram precipitação de Pimentel na deflagração da aliança previamente ao aval do partido.

Na resolução do diretório petista, ficou definido ainda que o partido terá coligações prioritárias com seus tradicionais parceiros de esquerda - PSB, PCdoB e PDT além do PMN e do PSC; manterá "diálogo intenso" com o PMDB e demais partidos da base, respeitando as "dificuldades naturais" dos Estados. Alianças que fujam dessas características em capitais, cidades que tenham segundo turno e aquelas com horário eleitoral na televisão, terão que ter o aval da Executiva nacional.

Apesar de a parceria entre PT e PSDB já ter ocorrido em outros Estados, como Bahia e Acre, por exemplo, a questão mineira é mais complexa, pois envolve um presidenciável tucano (Aécio) e um dos maiores colégios eleitorais do país. A líder do PT no Senado e integrante do antigo Campo Majoritário, Ideli Salvatti (SC), lembra que a aliança PT e PSDB que garantiu duas eleições para o petista Jorge Viana, no Acre, tinha como pano de fundo barrar o grupo político ligado ao ex-deputado Hildebrando Pascoal, filiado ao PFL. "O caso de Minas é diferente. Nada que se faz lá pode ser considerado simplesmente circunscrito às terras mineiras", afirmou a líder.

No fim de semana, Lula disse que as alianças municipais não significam, necessariamente, uma projeção para 2010. O governador da Bahia, Jaques Wagner, lembrou, ao chegar par ao encontro, que a parceria com o PSDB também acontece na Bahia - lá, o inimigo é o DEM. "Eu faço política sem preconceito, eu faço política em função de idéias. Eles (os tucanos) abraçaram o nosso projeto. Portanto, nós já estamos construindo esse trabalho desde 2007", ressaltou, prometendo que não entrará em conflito com o tucano Antônio Imbassahy, que disputará a Prefeitura de Salvador.

Sobre o futuro, Wagner não é convincente, preferindo a evasiva. "Não vejo com naturalidade. Agora, a política é a arte da conversa, o futuro a Deus pertence. Depende muito do resultado de 2008", avalia. Quem não quer nem pensar nessa aliança é o deputado estadual Raul Pont (RS), também membro do Diretório Nacional e integrante da Democracia Socialista (DS). "A orientação era para reorganizar a Frente Popular (composta pelo PT, PSB e PCdoB) e abrir exceções, analisando caso a caso coligações com outros partidos da base nacional. Agora, PSDB e DEM são oposição clara ao governo Lula", ressaltou Pont ao chegar para o encontro.

Na opinião do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), as decisões de alianças devem ser sempre submetidas às orientações do diretório , sem conceder completa autonomia para os diretórios municipais. "Senão, chegamos à bagunça que se encontram outros partidos e até, em boa parte, no PT". Ao chegar para a reunião do diretório, Greenhalgh defendia que, mesmo se aprovada, a aliança PT-PSDB na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte não deveria significar um compromisso para as eleições de 2010. (Colaborou Ivana Moreira, de Belo Horizonte, com agências noticiosas)