Título: Oposição briga para convocar Dilma à CPI dos Cartões
Autor: Ulhôa ,Raquel
Fonte: Valor Econômico, 25/03/2008, Política, p. A11

A oposição prepara argumentos para desembarcar da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) dos Cartões Corporativos se, na reunião de amanhã, a maioria governista impedir a convocação da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e a quebra de sigilo dos gastos com cartões corporativos da Presidência da República.

Com a divulgação, pela revista "Veja", da existência de um dossiê de gastos com suprimento de fundos do governo Fernando Henrique Cardoso, supostamente elaborado na Casa Civil da Presidência da República, os líderes do PSDB e do DEM no Senado, Arthur Virgílio (AM) e José Agripino (RN), consideram o depoimento da ministra fundamental para a investigação.

"Espero que ela compareça à CPMI para explicar os detalhes que eles sabem do governo anterior sobre as chamadas contas tipo B", afirmou Virgílio, da tribuna do Senado. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que o mais grave no dossiê é sua existência. "Os dados não preocupam. O fato de ele existir é deplorável", disse. O PSDB fez uma análise dos gastos de FHC e teria concluído que não há informações relevantes.

Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou a questão do suposto dossiê feito pelo Planalto sobre os gastos com cartões corporativos do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O presidente negou qualquer possibilidade de o governo fazer dossiês. " Em 2005, quando eu estava em situação bem mais complicada, não fiz dossiê. Imagine agora. Não tem sentido " , disse o presidente. Ao abrir a reunião, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (PTB-PE), leu nota da Casa Civil sobre o dossiê.

No sábado, a Casa Civil divulgou nota em que "desmente categoricamente" haver dossiê elaborado no Palácio do Planalto. Para a oposição, os dados - que incluem até gastos da ex-primeira dama Ruth Cardoso - são verdadeiros e foram divulgados com o objetivo de chantagear o PSDB, para evitar a investigação do governo atual.

"Ou ela (Dilma) participou disso - e fica difícil a olharmos legitimamente como ministra - ou ela é uma tola alegre, que fica aparecendo na televisão chorando ao lado do presidente Lula quando lançam o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e, por trás, fazem ações criminosas, como a divulgação de dados que o presidente Lula diz ser sigilosos, mas que ele libera quando se trata dos gastos feitos na gestão anterior", disse o tucano.

As bancadas do PSDB e do DEM reúnem-se hoje, separadamente, para definir uma estratégia de ação conjunta na CPI dos Cartões Corporativos. A reunião de amanhã é considerada decisiva pelos dois partidos. Há mais de 140 requerimentos aguardando votação, muitos referindo-se à abertura dos gastos da Presidência da República, considerados sigilosos. A oposição precisa encontrar uma saída política, para não parecer que está abandonando a CPMI para impedir a investigação do governo passado.

O líder do DEM defende que a comissão analise o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre as auditorias nos gastos do governo Lula com cartão corporativo e, então, peça abertura dos sigilos que considerar essenciais ao prosseguimento das investigações. "Se, pela truculência do voto, derrubarem os requerimentos de quebra de sigilo, defenderei que nos retiremos da CPI para não fazermos parte de uma farsa", disse Agripino.

Dos 24 integrantes da CPI, 15 são da base aliada do governo. Havia um acordo transferindo as votações dos requerimentos para depois do depoimento do general Jorge Armando Félix, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que deve explicar o que são gastos sigilosos. Mas, com viagem marcada, o ministro se dispôs a falar depois do dia 6 de abril. Por isso, e por causa da divulgação do suposto dossiê, a oposição quer apressar a votação. A presidente da CPI, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), está disposta a submeter os requerimentos à votação amanhã.

O líder tucano disse que pedirá a FHC e a Ruth Cardoso que autorizem a transferência do seus sigilos, e que enviará requerimento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva solicitando o mesmo - em relação a ele e à primeira-dama, Marisa Silva. A oposição ganhou apoio do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN). Ele defendeu a abertura do sigilo dos cartões corporativos da Presidência da República. "Se eu fosse o governo abriria mão do sigilo dos cartões", disse. (Colaborou Thiago Vitale Jayme)