Título: Sem barreiras, importações americanas cresceriam 94%
Autor: , importações americanas cresceriam 94%
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2005, Agronegócios, p. B9

Se os países ricos eliminassem suas tarifas e cotas, suas importações de carnes, açúcar, etanol, suco de laranja e fumo em folha disparariam. No caso dos Estados Unidos, o aumento seria de 94% - ou US$ 4,8 bilhões -, para US$ 9,8 bilhões. Já as compras externas da União Européia cresceriam 55% (3,1 bilhões de euros), para 5,06 bilhões de euros. Europeus e americanos são os maiores importadores mundiais de produtos agrícolas. Esses números correspondem à geração de comércio que poderia ocorrer caso as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) ou o acordo entre Mercosul e União Européia culminem em uma eliminação total de tarifas. Brasil e Argentina, que são grandes produtores agrícolas, se apropriariam de boa parcela desse total. Esses dados estão na conclusão do estudo "Produtos da agroindústria de exportação brasileira: uma análise das barreiras tarifárias impostas por Estados Unidos e União Européia", tese de doutorado apresentada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) por André Meloni Nassar, diretor-executivo do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). Nassar explica que, propositalmente, o estudo não levou em consideração as mudanças nos preços domésticos que fatalmente seriam provocadas pela abertura dos mercados. "Esses valores representam o que americanos e europeus poderiam comprar sem mexer no seu mercado doméstico", diz o economista. O objetivo do cálculo é dar ao Brasil uma "arma" nas negociações comerciais. Exemplo: o trabalho mostra que a UE poderia aumentar as importações de carne bovina em 186,4 mil toneladas sem alterar o preço pago aos seus produtores. Nas negociações com o Mercosul, no entanto, os europeus propuseram cota de apenas 100 mil. "Agora dá para saber qual é o volume mínimo que eles tem que oferecer", afirma Nassar. Na carne de frango, a proposta da UE também foi inferior ao indicado no estudo. Os europeus ofertaram 75 mil toneladas e o cálculo demonstra que poderiam aumentar suas importações em 123,5 mil toneladas sem mudança nos preços domésticos. Na elaboração da tese, Nassar analisou as tarifas e cotas impostas pelos ricos. Foram escolhidos produtos que interessam muito ao Brasil, mas que são considerados sensíveis por americanos e europeus: açúcar e álcool, carne bovina, carne de frango, carne suína, suco de laranja, cafés torrado e solúvel e fumo. No caso dos Estados Unidos, açúcar e fumo são produtos considerados "altamente" protegidos. A liberalização tarifária proveniente de uma negociação comercial poderia gerar aumentos de 180% nas importações de fumo e de 29% nas de açúcar. As carnes bovina e suína têm proteções "moderadas" nos EUA. Mesmo assim, as importações aumentariam 129% no caso da carne bovina e 29% no da carne suína com o fim das tarifas. O mercado europeu é ainda mais fechado que o americano. São considerados produtos "altamente" protegidos as carnes bovina, suína e de frango, o açúcar e o fumo. Os aumentos de importações provenientes da liberalização tarifária seriam, respectivamente, de 90,5%, 43,4%, 41,3%, 88,1% e 22,7%. Já o café solúvel é um produto com proteção considerada "moderada", cujas importações poderiam crescer 51,8%. Para alguns produtos, o estudo detectou que a tarifa não é o elemento decisivo para possibilitar o incremento de comércio. No caso da carne suína, as barreiras sanitárias impostas pela União Européia restringem mais as importações do que as taxas. Também é complicado verificar qual será o possível aumento das importações de etanol na Europa, porque esse mercado ainda está em formação. Nos EUA, apesar das baixas tarifas, as importações de carne de frango são barradas pela alta competitividade dos produtores locais.