Título: Apoio maior à comercialização depende de Lula
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2005, Agronegócios, p. B9

O aumento dos recursos para auxiliar a comercialização da atual safra está dentro de um "pacote ambicioso" de apoio ao setor agrícola, mas dependerá diretamente de uma decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva até a próxima semana. "Não existem recursos suficientes para tudo, e alguém vai ter que perder para a agricultura ganhar", resumiu o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. A bancada ruralista e Rodrigues têm pressionado o Ministério da Fazenda para elevar em mais R$ 1,558 bilhão o orçamento das Operações Oficiais de Créditos. O dinheiro é usado pelo Tesouro Nacional para bancar a diferença entre os juros do crédito rural (8,75%) e as taxas de mercado. Esses recursos se somariam aos R$ 526,8 milhões já garantidos - no total, seriam R$ 2,085 bilhões. "Estamos analisando um pacote, mas não temos recursos financeiros", disse Rodrigues. As negociações para essa elevação também incluem o apoio dos deputados ruralistas ao candidato oficial do PT à Presidência da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalg (SP). A votação ocorre hoje, e os ruralistas querem aproveitar o momento de fragilidade do governo para arrancar o compromisso de destinar mais R$ 3,5 bilhões à comercialização da safra pelos bancos, especialmente o Banco do Brasil. O Plano de Safra 2004/05 destinou cerca de R$ 4 bilhões para esse fim, entre juros livres e controlados. "Se não fizer agora, o custo será maior num futuro bem próximo com rolagens de dívidas, queda na renda e nas exportações", afirmou o presidente em exercício da Comissão de Agricultura da Câmara, Moacir Micheletto (PMDB-PR). Nesta semana, o governo decide como "equalizar" parte dos juros desses recursos adicionais, de acordo com cada fonte disponível. O dinheiro deve vir da poupança rural ou da Cédula de Produto Rural (CPR) do Banco do Brasil, dos fundos constitucionais do Centro-Oeste (FCO) e do Nordeste (FNE) ou do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Os juros não serão os 8,75% do crédito rural, mas devem ser mais baratos que os 18,25% da Selic. O governo também começou a analisar a prorrogações das dívidas de produtores de algumas regiões. "Não descartamos os pedidos onde houve quebras de safra, mas não faremos nada generalizado. Estudamos uma eventual prorrogação dos investimentos", disse Rodrigues. Há, portanto, esperanças para os produtores do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul. O ministro disse também que os cacauicultores têm boas chances para renegociar R$ 180 milhões em dívidas, repactuadas entre 1996 e 1998 por cinco anos. "O argumento deles procede. O governo errou ao indicar uma solução técnica equivocada para erradicar a vassoura-de-bruxa das plantações", disse. No caso do café, a situação se complicou. O governo não quer abrir um precedente ao renegociar dívidas de um setor em boa forma. "A Fazenda resiste fortemente", afirmou.