Título: Nota pós-Copom atrai mais que decisão
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2005, Finanças, p. C2

A reunião de fevereiro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que começa amanhã e termina na quarta-feira, é um não-evento técnico se for considerado somente o seu resultado em si. Qualquer decisão que não for uma elevação da taxa Selic de 18,25% para 18,75% será recebida com grande surpresa. O anúncio de uma alta maior do que o 0,50 ponto percentual amplamente previsto pelas instituições será, contudo, menos surpreendente do que uma elevação de 0,25 ponto, já que a ata de janeiro do Copom confessou a predisposição da diretoria de intensificar o aperto se o mercado não reduzir suas expectativas de inflação e se os núcleos do índice oficial de inflação (o IPCA), atualmente projetando acumulado de 7,5% no ano, não caírem. A reunião de fevereiro do Copom não será um não-evento porque, mais do que a decisão em si, interessa muito aos analistas conhecer o teor do comunicado expedido após o encontro para informar a nova taxa básica de juros. Se for mantida, ipsis literis, a nota divulgada após os encontros de dezembro e janeiro é porque a intenção do colegiado é fazer mais uma alta de 0,50 ponto na reunião de março. Seria transferida, desta forma, para o encontro de abril a chance de interrupção do aperto desfechado em setembro. Mas se o comunicado mudar, passará a ser mais numerosa a ala dos analistas que aposta numa elevação de 0,25 ponto em março, com estabilização da Selic em 19% até o último trimestre do ano. A reunião que começa amanhã certamente não será um não-evento político. Como das vezes anteriores, as pressões políticas irão se avolumar, sobretudo porque os mais recentes índices de inflação vem saindo com altas acanhadas. Mas, como observa o diretor-superintendente do Banco Fibra, João Rabêllo, a perda de fôlego dos IGPs apenas pode servir para dissuadir o BC a não ampliar o ritmo de alta do juro.

O argumento básico que pode ser utilizado pelos que, de dentro do Planalto, confrontam o Copom é o de que o seu núcleo linha-dura rasgou o modelo econométrico baseado no qual explicava o rigor científico do reaperto monetário. Quando o modelo, escorado em premissas de juro, câmbio e inflação, apontava para a necessidade de elevação da taxa básica, era invocado como mandamento divino. Hoje o modelo recomenda manter o juro. E não se fala mais dele. Para uma Selic de 18,25% e uma taxa de câmbio de R$ 2,60, o IPCA projetado já está levemente abaixo de 5,1%, a meta oficial.

BC rasga modelo matemático de inflação

Evento ou não-evento, a reunião será precedida pela tradicional Tensão Pré-Copom. Ela está garantida pela divulgação, hoje, do IPCA de janeiro. Como os dados sobre a produção industrial de dezembro, a inflação oficial do mês passado assegura movimentos especulativos, pois, segundo previsão geral, o indicador ainda virá alto. O prognóstico é de que os núcleos irão variar de 0,57% a 0,65%. Na média de 0,60%, projetam inflação de 7,4%. Só esse número, desconsiderando-se os efeitos baixistas sobre os preços ao consumidor produzidos pelo declínio apurado no atacado, já seria capaz de revigorar o ardor monetarista do Copom. Por prudência, o mercado futuro de juros da BM&F persiste ajustando para cima o contrato mais curto, para a virada do mês. Subiu, na sexta-feira, de 18,55% para 18,57%. Os demais, sob efeito do IGP-M de apenas 0,18% no primeiro decêndio de fevereiro, caíram. O vencimento mais líquido, para a virada do ano, recuou de 18,76% para 18,69%. Euforia movida a capital externo Os esforços desenvolvidos pelo BC contra uma apreciação cambial mais acentuada, vitoriosos na quinta-feira, naufragaram na sexta. Fluxo forte de capital ignorou leilão de compra feito pelo BC e jogou o dólar a R$ 2,6040, queda de 0,57%. A semana passada foi a quinta consecutiva em que acumulou baixa. No período, desvalorizou-se 4,02%. O capital estrangeiro persiste sustentando o movimento de recuperação da Bovespa. Na sexta-feira, o índice subiu 0,97%, para 26.670 pontos, novo recorde. Foi a sexta alta seguida. O ganho no período foi de 10,44%. O giro foi excepcional, de R$ 2,1 bilhões. Os fundos estrangeiros continuam comprando bônus brasileiros. O risco-país caiu 0,98% na sexta-feira, para 404 pontos-base.