Título: Reestruturação da Abin unifica setores de inteligência de órgãos do governo
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 26/03/2008, Brasil, p. A2

Paulo Lacerda, diretor da Agência Brasileira de Inteligência: troca de informações mais ágil nas investigações A reestruturação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), um plano do diretor Paulo Lacerda, começou a sair do papel ontem, com a publicação, em uma edição extra do Diário Oficial, da regulamentação que permite à agência atuar com mais desenvoltura na mobilização e coordenação de outros órgãos do governo. A intenção, como antecipou o Valor , é criar o Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), unificando em um mesmo complexo setores de inteligência de diversos órgãos do governo federal. Dessa forma, Lacerda espera que a troca de informações, sobretudo em casos de investigação, seja mais ágil.

Um dos focos será auxiliar no combate ao terrorismo internacional, além de situações como a proteção de informações relativas às empresas brasileiras, tanto privadas quanto estatais. Segundo um assessor da Abin, se esse modelo já estivesse em funcionamento quando houve o furto dos dados da Petrobras, a parceria entre Abin e a Polícia Federal teria sido muito mais eficiente.

A idéia é que cada setor do governo - Forças Armadas, Polícia Rodoviária Federal, Banco Central, Coaf, Ibama, INSS, dentre outros - ceda a essa nova estrutura cinco servidores que atuem na área de inteligência. Quatro deles trabalhariam em regime de plantão e um coordenaria a equipe. "A Abin funcionaria como o síndico de um condomínio. Não entraria diretamente no trabalho dos demais setores, mas buscaria interagir com eles", completou um assessor.

A nova estrutura funcionará em um prédio com três pavimentos. Até o mês que vem, o primeiro deles estará em funcionamento, como projeto-piloto. "É tradição da administração pública produzir muita informação, apenas estaremos centralizando e tornando-as mais eficientes", completou um assessor da agência.

No final do ano passado, Lacerda, que alcançou a presidência da Abin após a reestruturação que empreendeu na Polícia Federal, assegurou em entrevista ao Valorque a ampliação do poder da agência não significaria que ela passaria a "bisbilhotar a vida dos cidadãos", mesmo com autorização judicial.

A idéia dele é concluir a expansão da agência em um prazo de cindo anos. "O grande desafio da área da inteligência no Brasil é desmistificar a idéia de espionagem. Eventualmente, há na atividade de inteligência algum tipo de atuação mais reservada, por sua própria natureza, mas por outro lado ela atua também como um setor importante para municiar a alta administração pública, em tempo hábil, de informações estratégicas e necessárias para seu desempenho", afirmou ele, à época.

Lacerda lembrou ainda que todos os países democráticos mantém as atividades de inteligência como uma linha mestra fundamental para auxiliar na definição de políticas públicas. "Vamos ter salas de reuniões e, assim, a instituição que estiver demandando uma informação pode perfeitamente pedir que os demais o auxiliem naquela pesquisa. Isso ajuda na identificação de personagens, às vezes conhecidos de um órgão, mas não do outro. É um sistema que ajudará o Estado a se antecipar a ações criminosas", afirmou, na ocasião, o diretor-geral da Abin. (Colaborou Cristiano Romero)