Título: CNI sugere que governo corte gastos
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Fonte: Valor Econômico, 26/03/2008, Brasil, p. A3

Os empresários da indústria criticaram ontem, em Brasília, a possibilidade de o governo restringir o acesso ao crédito para prevenir a inflação. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), admitiu que, em alguns segmentos, pode haver defasagem entre oferta e demanda, mas ressaltou que o aumento da capacidade produtiva de setores expressivos da indústria já está contratado por meio do amplo crescimento do investimento.

Em reunião do setor para o lançamento da Agenda Legislativa de Interesse da Indústria, Monteiro Neto sugeriu que o governo poderia ajudar muito se cortasse os crescentes gastos com o custeio da máquina pública. Se o governo, com suas despesas, é responsável por parte da demanda e ela continua forte, precisa de autodisciplina. "Se o governo está querendo conter o gasto privado, precisa também limitar a despesa pública que afeta a demanda", recomendou. Para ele, o gasto corrente não pode crescer a taxas maiores que as do Produto Interno Bruto (PIB).

O presidente da CNI questionou se o país está enfrentando pressões inflacionárias conjunturais ou se há um aumento generalizado de preços. Na sua avaliação, trata-se de algo isolado e, portanto, apertar o crédito não terá efeito. Ele citou os alimentos e alertou que ninguém precisa tomar crédito para comprar comida. Em veículos, o mercado incorporou consumidores que estavam excluídos, mas mesmo assim ele não vê impacto do crédito nos preços.

Monteiro Neto citou dois instrumentos importantes para conter eventuais pressões da demanda. O primeiro é a liberdade de elevar as importações se ocorrer algum problema localizado de desabastecimento. O segundo instrumento é a taxa de investimento, que vem aumentando nos últimos dois anos. Isso, na sua avaliação, significa que será, certamente, ampliada a oferta de bens. "O que não sabemos é em que momento essa produção aumenta, mas ela já está contratada por meio da compra de máquinas e equipamentos que vem batendo recordes", comentou.

Na análise do presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato Neto, não há pressão inflacionária de demanda que justifique restrições ao crédito. Lamentou que, traumatizados pela hiperinflação do passado, os brasileiros acabaram incorporando um reflexo que associa, incondicionalmente, crescimento e aumento descontrolado de preços.