Título: Disputa por relatoria afeta relação de aliados
Autor: Izaguirre , Mônica ; Jayme , Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 26/03/2008, Política, p. A7

A briga entre PT e PMDB em torno da próxima relatoria da reforma tributária e da presidência da Comissão de Orçamento do Congresso está tão acirrada que começa a interferir na sucessão para a presidência da Câmara. O líder do PT, deputado Maurício Rands (PE), disse ontem ao Valor que a postura do PMDB "está esgarçando" o acordo firmado entre os dois partidos quando da eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP), em 2007.

PMDB e PT firmaram um acordo de revezamento, e a partir de 2009 seria a vez dos pemedebistas presidir a Câmara. "O PMDB precisa tomar cuidado para não esgarçar esse acordo", advertiu o líder. Segundo ele, "as coisas estão, sim, relacionadas".

Ontem, porém, o deputado Tadeu Filippelli (DF), vice-líder do PMDB na Câmara, avisou que o partido quer dar ao deputado Mendes Ribeiro Filho (RS) a presidência da Comissão de Orçamento, posto até então do senador José Maranhão (PMDB-PB). O PT que dar o cargo a Geraldo Magela (PT-DF).

No caso da comissão especial a ser criada para analisar a reforma tributária, há uma disputa nos bastidores entre os deputados Sandro Mabel (PR-GO) e Antonio Palocci (PT-SP) pela relatoria. O PMDB apóia o parlamentar goiano e esperava ver o deputado Edinho Bez (PMDB-SC) na presidência da comissão. Nos últimos dias, porém, os pemedebistas têm aceitado negociar.

O acordo passaria pela confirmação de Mabel na relatoria. Palocci ficaria na presidência. Ontem, no almoço de lançamento da Agenda Legislativa da Indústria, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a maioria dos líderes apostava nessa formação para a cúpula da comissão. "Bez seria acomodado em outra relatoria importante ou presidência de comissão especial. É fácil de resolver", revelou um vice-líder governista. Rands ainda aposta em Palocci na relatoria, mas evita defender qualquer nome para a presidência.

O PMDB aceitaria a proposta como forma de garantir a presidência da Câmara a partir de 2009. O PT garante que o acordo será mantido mas, nos bastidores, tenta vincular o revezamento na Câmara à presidência do Senado. O partido teme que o PMDB presida as duas Casas a partir de 2009, informam alguns deputados do partido. Temer descarta fazer a vinculação de Câmara e Senado. Diz não ter como fazer uma negociação casada.

Na Comissão de Orçamento, a preocupação do PT não é com a presidência em si, mas com a consequência da posse de um deputado do PMDB. O deputado Gilmar Machado (PT-MG), vice-líder do governo no Congresso, alerta que, nessa hipótese, em função do revezamento Câmara/Senado, pelas regras internas do Congresso, a relatoria do orçamento da União para 2009 necessariamente teria que ser de um senador de outro partido que não o PMDB. E depois do PMDB, a segunda força no Senado é o bloco de oposição formado por DEM e PSDB. "Não vamos permitir que a relatoria do Orçamento seja indiretamente entregue à oposição", avisa Machado.

"Não concordo com essa visão", rebate Tadeu Filippelli. O PMDB ainda acha possível manter a dobradinha PT/PMDB no Orçamento, só que, desta vez, com um deputado peemedebista e um senador petista. Nos últimos anos, tem sido o contrário, um senador do PMDB e um deputado do PT, revezando-se na presidência e na relatoria do Orçamento.