Título: Partido quer Patrus na disputa
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 26/03/2008, Política, p. A11

Kátia Lombardi/Valor - 21/9/2007 Pimentel em nota: "Entendo que não houve qualquer proibição à tese que defendo em BH, de uma aliança liderada pelo PSB e que inclui no arco de apoio o PSDB" A direção nacional do PT quer convencer o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, a concorrer à Prefeitura de Belo Horizonte para neutralizar a aliança entre PT e PSDB costurada pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel e o governador do Estado, Aécio Neves. A crise gerada pela dobradinha entre petistas e tucanos chegou ontem ao gabinete presidencial. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se, no início da manhã, com o vice-presidente José Alencar, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. Alencar e Costa também são contra a aliança, pois ela tira a força pemedebista no Estado.

O encontro foi convocado por Lula e durou aproximadamente uma hora. Nele, o presidente, segundo um dos presentes, não "prescreveu qualquer caminho a ser seguido, mas demonstrou bastante preocupação com os rumos do debate em Belo Horizonte". De acordo com Lula, o atual cenário mostra cinco ou seis candidatos da base disputando a mesma cadeira, numa situação que, inevitavelmente, gera seqüelas.

Em nenhum momento o presidente afirmou que proibiu ou autorizou a aliança costurada por Pimentel. Lula confirmou que foi procurado por Pimentel com a proposta de parceria e que teria dito o seguinte: "Se você acha que esse é o melhor caminho, tudo bem. Mas construa isso com o PT e com os partidos aliados". Reside aí, justamente, uma das maiores reclamações. "Quando todos nós soubemos do acordo, ele já estava sacramentado e publicado nos jornais", disse um petista que é radicalmente contra a aliança.

O impasse cresce e o tempo é curto para sua solução. No domingo vai acontecer a reunião do diretório municipal petista para a escolha dos delegados do partido. No debate, a tese da aliança em torno do secretário estadual do Desenvolvimento Econômico de Minas, Márcio Lacerda (PSB), ou o apoio à candidatura própria, no caso, o ex-deputado estadual Rogério Correia. A entrada do nome de Patrus nessa disputa, portanto, só aconteceria por acordo ou na base da imposição vertical - algo que também geraria traumas consideráveis.

Outro complicador é que, até o momento, Patrus mantém-se irredutível na decisão de não disputar a Prefeitura de Belo Horizonte. Ele alega que está "apaixonado" pelo seu trabalho no Ministério do Desenvolvimento Social e que enxergaria isso como uma missão. "Eu gosto de cumprir missões. Não faço política pensando no próximo degrau", disse Patrus.

Para não parecer que há uma implicância de setores do PT com a indicação do nome do PSB - embora a restrição concreta seja, de fato, à aliança com os tucanos - surge como alternativa o nome da ex-reitora da Universidade Federal de Minas Gerais, Ana Lúcia Gazzola, filiada ao PSB e também próxima de Aécio. "Claro que o sonho seria o Patrus ser candidato. Caso não venha a ser, o nome de Ana Gazzola também é bom. Em uma cidade como Belo Horizonte, sempre pesa o fato de ser ex-reitora de universidade", confirmou o petista mineiro que é contra a aliança.

No término do encontro, Lula disse que pretende retomar o assunto na semana que vem, mas não adiantou para os presentes se poderá ou não vir a conversar com Pimentel sobre o caso. A própria posição de Alencar também pode pesar na decisão de Lula. Há duas semanas o vice-presidente reuniu-se com Hélio Costa, que é contra as negociações feitas por Pimentel. Na semana passada, Alencar foi ao aniversário de José Dirceu, que também é contra a aliança. E ontem reuniram-se todos os contra do governo.

A Direção Nacional já deu a primeira enquadrada em Pimentel no encontro do diretório, na segunda-feira. Ficou definido que todas as alianças em capitais e cidades com segundo turno, envolvendo partidos fora da base de sustentação do governo Lula, teriam que ser aprovadas, obrigatoriamente, pela Executiva Nacional do PT. "Temos que buscar um nome que unifique, não um que seja excludente", afirmou um ministro próximo do presidente.

O principal cabo eleitoral em Brasília da aliança desenhada por Pimentel é o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG). Ele afirmou que a aliança com o PSDB não é um monstro, já que os dois partidos têm um viés social-democrata, lutaram contra a ditadura e só romperam em 1994 - numa decisão que não passou por Minas. "Também é falso que não debatemos essa aliança. Estamos com essa proposta na rua há pelo menos quatro meses", declarou Virgílio. Outro aliado de Pimentel acredita que o veto seja a suspeita do grupo de Patrus de que tanto Lacerda quanto o candidato a vice, Roberto Carvalho (PT), sejam aliados do prefeito de Belo Horizonte. "Isso deixaria o Pimentel muito forte para 2010", reconhece um petista.