Título: Executivos têm dúvida se reforma tributária sai até 2010
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Fonte: Valor Econômico, 26/03/2008, Especial, p. A16

Redução de impostos sobre a folha de pagamento e desoneração imediata dos investimentos são pontos importantes que a reforma tributária proposta pelo governo poderia trazer à sociedade, segundo empresários e executivos ouvidos ontem pelo Valor, durante a cerimônia de entrega do prêmio Executivo de Valor 2008. . O capital privado, porém, não é unânime ao avaliar se a reforma tem chances de ser aprovada na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Décio da Silva, presidente da WEG, não acredita que o governo finalizará a reforma tributária a curto prazo. "Já se fala há muito tempo nesse assunto", criticou. O executivo defende a adoção de medidas que desonerem os investimentos voltados ao setor produtivo e redistribuam a carga tributária, "de forma que mais gente contribua pagando menos".

O presidente da rede de laboratórios Fleury, Mauro Figueiredo, também integra o time dos que não acreditam que a reforma tributária possa ser aprovada. "É muito difícil fazer isso em final de governo. Acredito mais em ajustes pontuais", disse. Walter Torre, presidente da construtora WTorre, avalia, por sua vez, que o governo perdeu o "timing" para fazer avançar a reforma tributária.

Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano Papel e Celulose, é mais otimista. Ele avalia que há grandes chances de a reforma tributária apresentada pelo governo passar - desde que seja fatiada. "O governo deveria fazer imediatamente a desoneração dos investimentos. Afinal, o investimento produtivo é uma fábrica de impostos", disse. Argumenta que o governo deveria, num prazo médio, fazer a desoneração dos encargos sobre a folha de pagamento.

O dono da rede de restaurantes Fogo de Chão, Arri Coser, concorda com Maciel. Ele também gostaria de ver redução dos impostos sobre a folha de pagamento. "O funcionário ganharia mais e, com esse excedente, geraria mais consumo, movimentando a economia."

Cledorvino Belini, presidente da Fiat, diz que o governo definirá neste ano as bases para a reforma tributária. "É importante que ela desonere investimentos para permitir o aumento da capacidade instalada no país."

Para André Gerdau Johannpeter, da Gerdau, a reforma tributária precisa sair logo e o principal ponto é a redução do número elevados de impostos sobre os negócios. "Cria uma série de complicações operacionais para a empresa", afirma. Ele espera que saia logo, mas não vê muita convicção por parte do governo e políticos. "É um processo que está há longo tempo na pauta".

Na avaliação do presidente da Perdigão, Nildemar Secches, a reforma tributária sai. Ele sugere simplificação tributária geral e manutenção de incentivos regionais. "Se não, todas as empresas vão se instalar em Campinas", ironizou. Ele também defende redução da carga tributária.

Na torcida pela reforma ainda na gestão Lula também estão os comandantes da CPFL e da Electrolux. O presidente da CPFL, Wilson Ferreira, sugere redução do número de impostos e redução na carga tributária de forma "factível". Para o presidente da Electrolux, Ruy Hirschheimer, o país tem a chance de fazer a reforma agora. Diz esperar a simplificação da carga fiscal, com número menor de impostos.

Hélio Rotenberg, presidente da Positivo, também torce para que a reforma seja aprovada, mas teme eventual mudança na tributação do PIS/Cofins sobre os computadores. "O governo garantiu que o setor ficaria isento", disse

"Espero que a reforma tributária saia", afirmou Márcio Utsch, presidente da Alpargatas. Ele observou que as reformas já realizadas provocaram apenas elevação dos tributos. "Desonerar a cadeia é um dos pilares para que a reforma tributária seja eficaz. Outro pilar seria a simplificação tributária. Se um desses pilares faltar, a reforma não vai cumprir seu dever."

O presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, diz que a reforma tributária deve ser aprovada, mas não acredita que ela simplifique a estrutura de impostos e traga competitividade ao país. Para Fernando Terni, presidente da Schincariol, a reforma é urgente. "Os impostos somam quase 50% do preço final do nosso produto, o que exige revisão imediata dos tributos."