Título: Greve na Argentina confere fôlego extra aos preços dos grãos
Autor: Cruz , Patrick
Fonte: Valor Econômico, 26/03/2008, Agronegócios, p. B16

A Argentina adicionou maior instabilidade ao já atribulado mercado de commodities agrícolas, que tem verificado grandes oscilações sob a expectativa com as condições climáticas e os números da nova safra dos Estados Unidos, a incerteza das dimensões da crise econômica do país e a conseqüente liquidação - ou não - de contratos pelos fundos especulativos. Depois de uma semana volátil, mas de perdas, o dia ontem foi novamente de forte valorização para milho, trigo e soja.

O avanço dos preços foi creditado pelos analistas à interrupção das exportações na Argentina, que enfrenta uma greve de produtores rurais. O protesto, que chegou ontem ao 13º dia, busca derrubar impostos sobre exportações. Com produção de soja estimada em 11,5 milhões de toneladas nesta safra 2007/08, a Argentina é o terceiro maior produtor mundial do grão, em ranking liderado por EUA e Brasil.

"O impacto ocorre não só porque as exportações foram interrompidas, mas também porque não se sabe quanto tempo [a greve] vai durar", diz Gabriel Pesciallo, analista da Agência Rural. "No longo prazo, a tendência ainda é de alta, mas este ano vai ser complicado". Na última segunda-feira, afirma, apenas o rumor de que a China havia cancelado a importação de um lote de soja argentina e substituído por um americano já havia ajudado a acentuar a volatilidade.

Pelo segundo dia consecutivo, os contratos de soja negociados na bolsa de Chicago encerraram no limite de alta. Os papéis para julho subiram 50 centavos de dólar, ou 4,91%, para US$ 13,22 por bushel. Já são duas sessões de alta-limite após uma semana em que a commodity encerrou no limite de baixa em três dos quatro dias em que houve negociações. Com isso, os contratos de segunda posição de entrega, normalmente os de maior liquidez, reduziram a perda acumulada em março para 13,96%.

Sob a influência dos protestos na Argentina, os contratos de milho também encerraram no limite de alta ontem. O avanço de 20 centavos de dólar, ou 3,72%, levou os contratos da commodity com vencimento em julho para US$ 5,57 por bushel. Com a elevação, o milho reverteu as perdas deste mês. Os contratos de segunda posição de entrega passaram a acumular alta de 0,36%, segundo cálculos do Valor Data.

A liquidação de contratos de commodities agrícolas por especuladores tem sido creditada à grande volatilidade desse mercado em 2008. Ontem, a ação dos fundos foi novamente decisiva para a determinação dos preços. Traders que atuam na bolsa de Chicago estimaram que os fundos compraram 3 mil contratos de soja e 6 mil de milho. A fraqueza do dólar também estimulou as compras especulativas.

O trigo negociado em Chicago não atingiu o teto de alta, como milho e soja, mas também teve forte valorização. Os papéis com vencimento em julho subiram 50 cents, ou 4,91%, para US$ 10,6850 por bushel. Em março, com isso, a desvalorização dos contratos de segunda posição caiu para 1,61%.

No Brasil, a comercialização da soja atingiu 62% da estimativa de produção, de acordo com levantamento da Agência Rural. O ritmo de avanço mantém-se lento, segundo pesquisa, mas está acima dos 51% negociados no mesmo período da safra 2006/07. O preço da saca de 60 quilos, que acumula baixa de 7,9% em março, encerrou ontem com alta de 4,3%, a R$ 45,12, segundo o índice Cepea/Esalq.

O preço da saca do milho, por sua vez, caiu 1,39%, a R$ 26,28, de acordo com o índice Esalq/BM&F. No mês, a baixa é de 7,57%. No Paraná, o preço da saca de 60 quilos de trigo caiu ontem 0,27%, para R$ 40,07, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral).