Título: Com investimento em alta, projeção para PIB vai a 4,8%
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Fonte: Valor Econômico, 28/03/2008, Brasil, p. A7

O Banco Central aumentou de 4,5% para 4,8% suas projeções oficiais para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em parte porque espera uma expansão mais forte dos investimentos. Mas o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, procurou moderar os ânimos de quem espera que os investimentos mais fortes eliminem os riscos inflacionários: "Não basta olhar a expansão do investimento, precisa ver o tamanho dos investimentos na economia."

Sob ponto de vista de crescimento dos investimentos, disse Mesquita, os números são favoráveis: o BC diz em seu relatório de inflação, divulgado ontem, que espera uma expansão de 11,9% em 2008, mais do que os já alentados 10,4% projetados no relatório de dezembro. Mas o volume de investimentos em relação ao tamanho da economia, que foi de 17,5% em 2007, é visto pelo diretor do BC como apenas "modesto".

Ao fim e ao cabo, disse, o que importa é a maturação dos investimentos. Mesquita foi bastante pragmático ao analisar a contribuição dos investimentos para as pressões inflacionárias. "A expansão do investimento é demanda", afirmou. Ou seja, é um fator a mais na disputa sobre os escassos recursos da economia, ao lado do consumo das famílias e dos gastos do governo. "Quando ocorre a maturação dos investimentos, ele amplia a capacidade de produção da economia."

Na revisão da sua projeção do PIB, o BC também aumentou a contribuição do consumo das famílias, que foi para 6,8%, ante os 5,9% previstos no relatório de inflação de dezembro.

A projeção de consumo do governo foi mantida em 3,7% do PIB. No relatório, o BC diz que prevê que os gastos do governo continuem a se expandir. "Diante do quadro de vinculações orçamentárias vigente no país e das diretrizes de políticas públicas, é de se esperar que o ritmo de crescimento do consumo do governo se mantenha nos próximos trimestres", afirma o relatório. "Cabe reconhecer que os impulsos fiscais esperados para 2008 constituem-se fator adicional de estímulo a uma demanda doméstica que já cresce a taxas robustas."

O setor externo vai dar uma contribuição negativa de 2,3 pontos percentuais (pp.) no crescimento do PIB, acima do 1,8 pp. projetados em dezembro. Em outras palavras, importações líquidas vão permitir que a demanda doméstica cresça 2,3 pp. acima da capacidade doméstica de produção. A aceleração das importações em 2008 é estimada agora em 23,1%, ante 22,4% no relatório de dezembro; e a alta projetada das exportações é de 4,2%, menor do que os 6,6% esperados em dezembro.

Do ponto de vista da oferta agregada, o crescimento esperado do setor agrícola foi elevado de 4,4% para 4,9%, entre as projeções de dezembro e a divulgada ontem. As perspectivas ficaram mais favoráveis diante das indicações de que a safra de grãos vai crescer 5,1%. O crescimento da indústria foi reestimado, de 4,8% para 5,2%, devido à forte demanda doméstica e ao crescimento acima do esperado em 2007, que aumenta o chamado "carry over" de 2008 - ou seja, o crescimento de um ano que, por efeitos estatísticos, é transferido ao ano seguinte. A expectativa do BC para o crescimento dos serviços foi elevada de 4,2% para 4,4%. (AR)