Título: Conter crédito pode ser ineficaz, avalia Mário Mesquita
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2008, Brasil, p. A7

O diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, mostrou-se cético sobre a eficácia de medidas de contenção do crédito para eliminar pressões inflacionárias decorrentes do descompasso entre oferta e demanda. "O crédito é importante, mas não é toda a história", afirmou Mesquita.

Ele lembrou que o crédito tem papel importante para puxar o setor de bens duráveis, que, afirmou, responde por apenas 9,8% do IPCA. Os bens não-duráveis, que são puxados pelo aumento da renda e outros impulsos, como os fiscais, respondem por 26,5% do IPCA. "Não estou minimizando a importância do crédito", disse Mesquita. "Mas não podemos perder de vista que parcela importante do consumo é de bens não-duráveis, que não se compram com crédito".

Nos últimos dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem discutido com assessores e com banqueiros a alternativa de impor restrições ao crédito, tais limites ao número de prestações dos financiamentos, para evitar que o BC venha a aumentar os juros para conter a demanda.

Mesquita não rebateu diretamente a proposta da Fazenda, mas fez questão de deixar claro seu ponto de vista. "O crescimento da renda é um elemento tão ou mais importante do que o crédito na sustentação do consumo", afirmou. Ele assinalou que, no Sul e Centro-Oeste, a recuperação da renda agrícola tem efeitos multiplicadores sobre toda a economia, incluindo a indústria. No Norte e Nordeste, os programas de transferência de renda são fatores centrais na expansão de consumo.

O diretor do BC evitou comentar a reunião em que participou anteontem na Fazenda para discutir com os bancos medidas restritivas ao crédito. Sobre rumores de que o governo poderia taxar as operações de leasing com IOF, o diretor do BC afirmou: "O BC é uma autoridade monetária e de supervisão, não fiscal, portanto não tem responsabilidade para taxar".

No relatório de inflação, o BC discute por que a alta dos juros bancários não foi capaz de arrefecer a expansão do crédito. Os juros bancários subiram em virtude da alta dos juros futuros e porque a Fazenda aumentou de 1,5% para 3,38% a alíquota de IOF incidente sobre crédito ). "O significativo aumento do emprego e da renda, e a perspectivas de continuidade desse processo, em um ambiente em que os bancos procuram preservar fatias de mercado, funcionam como um importante propulsor da expansão do crédito", afirma o documento. "Além disso, não se pode desconsiderar que a introdução de mudanças institucionais voltadas para incentivar a concorrência no mercado de crédito pode manter as concessões em ritmo forte ou até mesmo determinar a sua aceleração." (AR)