Título: Dois eventos do PSDB evidenciam racha interno na eleição paulistana
Autor: César Felício ; Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2008, Política, p. A10

Dois eventos promovidos pelo PSDB na noite de ontem tornaram virtualmente irreversível a divisão do partido na eleição municipal em São Paulo deste ano. A candidatura própria do ex-governador Geraldo Alckmin foi lançada em um encontro com militantes de 46 dos 52 diretórios zonais paulistanos, cinco deputados estaduais e três federais e dois vereadores. No mesmo horário, em outro evento, um grupo de parlamentares simpáticos à manutenção da aliança com o prefeito Gilberto Kassab (DEM), que se diz "candidato natural à reeleição", se reunia para ouvir uma palestra do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Nem Alckmin, nem o governador José Serra e nem o presidente do Diretório Municipal, José Henrique Lobo, compareceram aos eventos, em uma tentativa, articulada pela direção nacional em Brasília, de conter o conflito. A animosidade, entretanto, ficou evidente. "O Diretório Municipal não está cumprindo com as suas funções. Não dá para ver a sangria do PSDB em praça pública e as lideranças não se posicionarem, em uma discussão que se torna pequena, leviana, sacana e oportunista", protestou, sob aplausos, o vereador Sebastião Farias (PSDB) na reunião alckmista. " Temos que andar de casa em casa, sem esta conversa de esperar. Se o PSDB tem projeto de retomar a presidência, isto passa por ganhar a prefeitura", disse o deputado estadual Marcos Zerbini. "Esta reunião é de um açodamento incrível. Se eu fosse da organização teria cancelado e mandado todo mundo para cá. Não é hora de lançar candidatura", disse, no encontro com Fernando Henrique, o secretário municipal de Esportes, Walter Feldman.

A reunião dos militantes pró-Alckmin começou extremamente agressiva contra Kassab, que chegou a ser chamado de "escroto" por um dos oradores, Luciano Gama, ganhando um tom mais moderado quando chegaram os parlamentares federais. Primeiro deputado a discursar, Edson Aparecido já foi conciliador: " Nossa candidatura não é contra ninguém. Vamos ter uma amplíssima aliança no primeiro e no segundo turno e teremos á frente Serra e Fernando Henrique", afirmou. Parte dos alckmistas, como o coordenador da campanha presidencial de Alckmin em 20006, João Carlos de Souza Meirelles, esteve nos dois eventos.

Nos próximos dias, Kassab e Alckmin devem se reunir pela terceira vez, na casa de Lobo, para acertar "um termo referencial de conduta", segundo afirmou o presidente do Diretório Estadual tucano, Antonio Carlos Mendes Thame, deputado federal e organizador do evento com o ex-presidente Fernando Henrique. "Temos que iniciar as tratativas para não haver seqüelas no primeiro turno, se não, não haverá aliança no segundo turno. Somos seres humanos", comentou o parlamentar. Segundo Thame, os dois pré-candidatos, nos encontros anteriores, ainda tentaram, sem sucesso, compor uma aliança.

Em sua palestra, Fernando Henrique discorreu sobre o cenário político e econômico mundial e nacional, sem qualquer referência direta sobre a crise do partido. Veladamente, condenou o racha. "O PSDB tem que voltar a ter uma cadeia de relacionamento com a população, se preocupar menos com as disputas internas e mais com o que ocorre com o povo. Onde é que o calo aperta. Se o PSDB for capaz de estar junto daquele que a coisa não vai bem e ser capaz de expressar isso, aí voltará a ouvir a voz rouca das ruas, do que o gemido. Porque hoje só geme". Entrou e saiu do evento sem conversar com jornalistas.

O encontro com FHC reuniu cerca de 500 pessoas, das quais metade comprou convites a R$ 2 mil, que irão para o caixa do PSDB. Na platéia ainda estavam integrantes do DEM, como o deputado José Aristodemo Pinotti e o secretário estadual do Trabalho, Guilherme Afif Domingos. No evento paralelo, prevalecia entre os apoiadores militantes católicos. Dois padres da Renovação Carismática trouxeram paroquianos da zona sul de São Paulo. Afirmaram estar autorizados pelo bispo de Campo Limpo, dom Emílio Pignoli. "Estamos representando um grupo de 30 padres e o bispo, que irão apoiar a candidatura de Geraldo. Estamos dispostos a mergulhar de corpo e alma na campanha. Geraldo é um diocesano, nosso irmão", disse o padre Anderson Risetto.