Título: Governador do MA junta-se a Chávez contra Sarney
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2008, Política, p. A11

Gilson Teixeira/O Pequeno/Folha Imagem Presidente da Venezuela faz corpo-corpo em São Luís, de braço dado com o governador Jackson Lago: "Não fiquem mais nervosos os que já estão nervosos" Depois de derrotar o grupo político do ex-presidente José Sarney (PMDB) no Maranhão, o governador do Estado, Jackson Lago (PDT), aliou-se politicamente a um dos maiores rivais do senador pemedebista, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e firmou ontem uma série de contratos com o venezuelano. A visita de cerca de cinco horas de Chávez à capital do Maranhão, irritou o grupo político de Sarney e reforçou o distanciamento entre os dois grupos políticos no Estado.

O governador do Estado indicou que sua intenção era conseguir a ajuda do presidente venezuelano para instalar uma refinaria no Estado e uma nova siderúrgica. Lago pediu, diversas vezes, a ajuda de Chávez e sua intervenção junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Queremos, presidente Chávez, apelar para que fale com Lula. Chegou a hora do Maranhão ter uma refinaria", disse Lago. Chávez comprometeu-se a falar com Lula e acenou com a possibilidade de investir na siderurgia no Maranhão.

Empolgado com a possibilidade de futuras parcerias, Lago disse que quer aumentar o número de investimentos venezuelanos no Estado. "Pedimos a técnicos do Maranhão e da Venezuela para que elaborem projetos em todas as áreas." Lago pretende aumentar a exportação de carne e soja à Venezuela, para ajudar a suprir a demanda por alimentos.

Os dois governos assinaram protocolos de cooperação em diversas áreas, como Saúde, Educação e Meio Ambiente e dentro de dois meses um grupo de empresários maranhenses deve ir à Venezuela. O encontrou, entretanto, evidenciou que a intenção dos dois políticos era mesmo de mostrar uma aproximação, ou "estreitar os vínculos de amizade", como definiu o próprio governo estadual. Não havia contratos pré-definidos, nem valores dos investimentos. Durante todo a reunião, nenhum ministro brasileiro esteve presente, tampouco autoridades representando do Itamaraty.

A visita do presidente venezuelano ao Maranhão foi vista como uma provocação ao senador do Amapá. Chávez foi a grande estrela de São Luís ontem e ganhou as manchetes dos três principais jornais do Estado. No "Diário do Maranhão", da família Sarney, a manchete "Hugo Chávez tenta interferir na vida política do Maranhão" deixava clara a crítica de Sarney ao presidente venezuelano. O jornal defendeu a tese que "a visita (...) mostra-se como represália ao ex-presidente e senador, que vem alertando para a política belicista de Chávez na América Latina."

Entre os integrantes do governo de Chávez, a contrariedade em relação ao governo Sarney seguiu a mesma linha. O senador é considerado "inimigo político" e foi atacado por supostamente "fazer campanhas para demonizar" e diminuir a figura do presidente venezuelano.

A rivalidade entre Sarney e Chávez não é recente. O senador é um dos maiores críticos à entrada da Venezuela no Mercosul e foi um dos articuladores de uma moção de repúdio ao fechamento do canal televisão RCTV. Chávez, por seu lado, chamou o Senado brasileiro de "papagaio de Washington". Sarney acusou, em diversas ocasiões, o presidente da Venezuela de ter uma "tentação autoritária" e de querer militarizar a America Latina.

O mal-estar de Chávez com Sarney, entretanto, apareceu de forma velada no discurso feito pelo presidente na sacada do Palácio dos Leões, sede do governo maranhense. Em suas primeiras frases, repetiu, por diversas vezes que estava consciente do espaço em que estava e que isso o emocionava. Para um aglomerado de militantes de movimentos sociais, estudantes e curiosos, ele usou a ironia e comentou que "muitos ficaram nervosos com a minha presença" no Estado e se opuseram à viagem. "Não fiquem mais nervosos os que já estão nervosos", comentou, dizendo em seguida que o governo venezuelano veio para ficar e que se compromete em atender aos interesses do Estado. Nem mesmo quando gritaram "pela expulsão de Sarney do Estado" o venezuelano respondeu.

Sob forte esquema de segurança, Chávez recebeu dúzias de rosas vermelhas, arremessadas por mulheres empenhando bandeiras do PDT, enquanto discursava. Como retribuição, ele escolhia algumas mulheres que queria agradar e jogava rosas brancas.

A aproximação entre Chávez e Lago foi intermediada, em parte, pelo MST. Os governos acordos também com a entidade na área de educação, para ampliar programa de combate ao analfabetismo. Alguns pontos defendidos por Chávez e por Lagos, entretanto, são contraditórios às antigas bandeiras do MST, como a rejeição ao agronegócio e da exploração ambiental pela Vale do Rio Doce.

O diretor estadual do MST do Maranhão, Jonas Borges, tentou minimizar o impacto ambiental que poderá ter o aumento da exportação de soja e de carne para a Venezuela, seguindo as intenções dos protocolos assinados pelos governos". São necessidades básicas para a Venezuela, que sofre com a falta de alimentos", minimizou. "Além disso, a soja a ser exportada não é transgênica". Em relação à pecuária extensiva, Borges disse que "é possível aumentar a produtividade sem aumentar a área de produção" e que dessa forma o desmatamento para a pecuária não seria ampliado. A ampliação de contratos com a Vale continua sendo alvo de críticas do movimento social.

A ampliação de contratos com a Vale continua sendo alvo de críticas do movimento social. "O Maranhão é um Estado muito atrasado em relação aos investimentos e a criação de uma siderurgia acaba servindo como discurso. É o mega-investimento que gera empregos e renda. Mas, na verdade, acaba não gerando divisas para o Estado e não respeita o meio ambiente", considerou Borges.