Título: Usiminas tem lucro de R$ 3,2 bilhões
Autor: Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2008, Empresas, p. B11

Às vésperas de deixar o comando da Usiminas, Rinaldo Campos Soares anunciou ontem - com a plena sensação do dever cumprido durante 18 anos à frente da siderúrgica mineira - o segundo melhor lucro de um ano já obtido pela companhia. O resultado de 2007 lhe dá motivos para comemorar - R$ 3,2 bilhões. Esse valor, que representou alta de 26% sobre o desempenho do ano anterior, só perde para o resultado recorde de R$ 3,9 bilhões alcançado pela empresa em 2005.

Em 29 de abril, na assembléia anual de acionistas, o conselho de administração da Usiminas vai sacramentar o nome de Marco Antônio Castello Branco, executivo do grupo francês Vallourec escolhido para assumir a gestão da empresa. Soares afirmou que ele foi escolhido "a quatro mãos", ou seja, com o consenso dos quatro grupos de acionistas da empresa - Votorantim/ Camargo Corrêa, Nippon Steel, Clube dos Empregados e Vale do Rio Doce.

No mesmo dia, serão eleitos os novos representantes do conselho de administração para os próximos dois anos, com a nomeação de um novo presidente. Soares vai ocupar uma cadeira, indicado pelo Clube dos Empregados, que têm direito a dois conselheiros.

Ele reconhece que chegou a sua hora de sair, dando lugar a uma nova era, depois de 40 anos na empresa, onde chegou, da França, com doutorado, como especialista em metalurgia. "Há 25 anos estou à frente da empresa, contando desde 1983, quando assumi a diretoria de operações e formei toda uma geração de profissionais que, sob minha liderança, transformou uma boa estatal em um sistema formado por 16 empresas e com faturamento anual de R$ 18,5 bilhões".

Privatizada em 1991, a Usiminas, depois de dois ciclos de investimentos, fechou 2005 com uma capacidade 9,5 milhões de toneladas de aço, operando duas usinas: Ipatinga (MG), onde surgiu no fim dos anos 50, e Cosipa, em Cubatão, na baixada Santista. Soares disse que teve um papel importante na venda da estatal ao mostrar para todos os funcionários a importância de olhar para novos horizontes - tornar-se privada - e buscar oportunidades de crescer, se verticalizar e se internacionalizar.

A Usiminas, sempre focada no segmento de aços planos, tornou-se uma referência em produtos aplicados no setor automotivo, na construção naval e em tubos de pequeno e grande diâmetro. É a única fabricante de chapas grossas do país. A empresa se orgulha de ter 52% do mercado, mas já teve mais. Nos últimos anos, com o crescimento da demanda interna, vem enfrentando o avanço da concorrência.

O executivo lembra que enfrentou vários momentos difíceis durante sua gestão na presidência: as crises da Ásia, da Rússia, a desvalorização de 1999 no Brasil e o problema financeiro, societário e operacional da Cosipa, outra ex-estatal e que acabou nas mãos da Usiminas. Por conta disso, e da crise do setor entre 2000 e 2002, a dívida da Usiminas foi às alturas. "Nessa época tomamos a decisão de cortar investimentos para atacar a dívida e tivemos sucesso".

Atualmente, a siderúrgica é a menos endividada do setor, mas criticada por não ter sido mais agressiva em expansão e internacionalização. A resposta de Soares é que a Usiminas tem pela frente, encaminhado, um plano de crescimento de quase US$ 10 bilhões até 2015, o qual eleva sua capacidade a 15,5 milhões de toneladas. A condução disso ficará a cargo do novo executivo, a partir de maio.

No currículo de Soares fica também a marca de ter comprado neste ano a J. Mendes, mineradora de ferro. A decisão, que fez o valor de mercado da Usiminas subir US$ 5 bilhões, garante auto-suficiência de suprimento de uma matéria-prima que acaba de subir quase 70%. "No conselho, darei apoio irrestrito à nova administração".