Título: Standard Bank quer crescer no Brasil
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2008, Finanças, p. C3

Grande parte dos US$ 2 bilhões de injeção de capital que o grupo sul-africano Standard Bank acaba de receber do Industrial and Comercial Bank of China (ICBC) será investido no Brasil, disse Jacko Maree, executivo-chefe do grupo, em entrevista exclusiva ao Valor. Em visita ao país como parte das comemorações de dez anos do banco, Maree não descartou aquisições. "Temos comprado bancos em diversos países, quando aparecem bons negócios", disse ele, para completar que a crise do sistema financeiro nos países desenvolvidos traz "grande oportunidades" para os bancos dos emergentes.

Os planos do Standard no Brasil são de expandir as atividades de banco de investimento, com novos produtos e atuação mais forte em segmentos nos quais o banco ainda não está presente. A instituição pretende ampliar sua atuação com derivativos, oferecendo mais proteção às empresas contra oscilação de preços de commodities, como açúcar, algodão, soja e etanol.

O banco quer fazer também mais financiamentos para aquisições, para grandes projetos de energia e infra-estrutura e para importações e exportações. A meta é ampliar sua participação no mercado de capitais interno, com destaque para as operações de securitização do setor imobiliário, além da atuação maior com câmbio e seus derivativos. "Avaliamos inclusive passar a participar no mercado de ações e de fusões e aquisições", conta Fábio Solferini, presidente do Banco Standard de Investimento, a filial brasileira do grupo que hoje é focada em renda fixa.

O Banco Standard de Investimentos tem 150 clientes e sua meta é chegar a 500. Para isso, o banco vai precisar de mais capital além dos US$ 90 milhões que tem hoje no país e também mais funcionários além das cerca de 95 pessoas. "Capital não será um empecilho para expansão agressiva do banco no Brasil, pois faremos aportes quando necessário", diz Jacko Maree.

Em parceria com o ICBC, o Standard acabou de montar um fundo de "private equity", que compra participações em empresas para depois vendê-las com lucro, que pretende captar US$ 1 bilhão. Serão US$ 200 milhões de capital do Standard, US$ 200 milhões do ICBC e os US$ 600 milhões restantes serão captados no mercado. "Queremos investir em empresas de commodities e recursos naturais, possivelmente também no Brasil", diz Maree.

Segundo ele, o governo do Brasil tem perseguido as políticas fiscais e monetárias corretas e prudentes, o que ajuda o país a resistir mais à crise. "Os investimentos no Brasil têm importância estratégica", diz. Primeiro, por razões políticas. Afinal, os governos do Brasil, Índia e África do Sul têm intenção de intensificar o comércio entre os países do hemisfério sul. O banco tem focado também sua atuação nos Brics - Brasil, Rússia, Índia e China-, que terão crescimento econômico acima da média durante este ano, apesar da crise nos países desenvolvidos. "Eles são importantes exportadores de recursos naturais e nós temos amplo interesse e conhecimento para atuar nessa área", diz Maree.

Segundo o executivo, o Standard Bank é um dos poucos bancos de um país emergente que tem perseguido uma agressiva estratégia de internacionalização e tem filiais em diversos países em desenvolvimento. "O PIB da África do Sul representa apenas 0,6% do PIB global e se nós queremos crescer temos de fazer isso em outros países", explica.

Da receita total do banco, de US$ 6,75 bilhões no ano passado, US$ 1 bilhão vieram de fora do continente africano, onde o Standard tem presença em 18 países. O banco está presente também na China (Xangai e Hong Kong), na Turquia, no Brasil, na Argentina, na Índia e na Rússia. A receita do Banco Standard de Investimento, a filial brasileira, foi de US$ 60 milhões no ano passado. O total de ativos com risco-Brasil, segundo calculam eles, chega hoje a US$ 600 milhões e estão contabilizados nos livros das mais diferentes praças. No ano passado, por exemplo, o Standard Bank ajudou a financiar uma parceria da Sadia com empresa na Rússia. O crédito foi contabilizado na filial russa.

O ICBC comprou 20% do Standard Bank por US$ 5,5 bilhões, mas mais da metade dos recursos foram para os acionistas do banco. O anúncio da operação foi feito no ano passado. Os recursos, no entanto, acabam de entrar no capital do banco, que agora está capitalizado para crescer. "O ICBC tem muitos interesses na África, mas também viu na transação uma oportunidade para crescer no Brasil", diz Maree.