Título: CMN garante mais recurso para crédito imobiliário
Autor: Galvão ,Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2008, Finanças, p. C12

Bancos que atuam no segmento da poupança rural poderão destinar 10% das novas captações para o crédito imobiliário. Entre as cinco instituições financeiras beneficiadas, a maior vantagem será do Banco do Brasil (BB), que pretende chegar ao segundo lugar do mercado para esses financiamentos com previsão de aproximadamente R$ 5 bilhões em carteira em 2012. Atualmente, a Caixa Econômica Federal é a líder, com cerca de 70% de participação.

A mudança está prevista em resolução aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e a norma também permite que as instituições financeiras que atuam no ramo imobiliário direcionem 10% das novas captações ao crédito rural. As novas carteiras terão de ser autorizadas pelo Banco Central (BC).

O CMN também igualou a remuneração (Taxa Referencial plena) para os valores que obrigatoriamente têm de ser transferidos ao BC nos casos de descumprimento da exigibilidade de aplicarem 25% dos depósitos à vista e 65% dos depósitos de poupança rural ao crédito rural. Pela regra atual, as instituições que integram o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) têm correção de 80% da TR.

O diretor de Liquidações e Desestatização do Banco Central (BC), Antonio Gustavo Matos do Vale, afirmou que o objetivo da resolução do CMN é flexibilizar as normas para que todas as instituições possam operar nas duas modalidades de crédito. Segundo suas estimativas, a oferta potencial dos bancos que poderão contratar financiamentos imobiliários é de R$ 3,2 bilhões. No caso do crédito rural, desconsiderando a Caixa, esse potencial é de R$ 7 bilhões. Com a Caixa, o valor vai a R$ 12 bilhões adicionais.

Vale disse que os cinco bancos privados e públicos já manifestaram interesse em atuar no crédito imobiliário. Atualmente, podem captar recursos para a poupança rural o Banco do Brasil, Banco do Nordeste (BNB), Banco da Amazônia (Basa), Bansicredi e Bancoob. "Esperamos neutralidade na medida. A margem de 10% foi definida como nível adequado para evitar a canibalização de um segmento", avaliou o diretor do BC, ao prever que o crédito rural será preservado.

O vice-presidente de Finanças do BB, Aldo Luiz Mendes, revelou que a instituição já apresentou pedido ao BC para atuar no crédito imobiliário e espera encerrar 2008 com volume de R$ 2,35 bilhões em empréstimos nessa área. Ele admitiu que a resolução do CMN não é clara e, a princípio, entendeu que os 10% seriam referentes às novas captações. O banco tem R$ 45 bilhões em contas de poupança.

O diretor de Novos Negócios do BB, Paulo Caffarelli, afirmou que a autorização do Banco Central vai possibilitar que a instituição integre o Sistema Financeiro de Habitação (SFH), o que vai permitir o uso dos valores do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para o crédito imobiliário.

Além disso, o banco já atua nesse segmento com recursos próprios (R$ 350 milhões) em contratos nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Somando-se esses valores às estimativas de uso de R$ 1 bilhão do FGTS e R$ 1 bilhão de novas captações, chega-se aos R$ 2,35 bilhões em 2008. Esse volume teria, em média, valor de R$ 85 mil e seria dividido em 27,6 mil contratos.

Segundo Caffarelli, o BB já tem convênio com a associação de poupança e empréstimo Poupex e também montou uma central de operações de crédito imobiliário em São Paulo. "Miramos clientes que recebem entre cinco e dez salários mínimos. Não vamos disputar mercado com a Caixa Econômica Federal. O que mais almejamos é aumentar a oferta de produtos aos nossos clientes, aproveitando a capilaridade de quatro mil agências", revelou.

O mercado de crédito imobiliário, na avaliação de Mendes, vem dobrando de ano para ano e a atuação do BB com recursos próprios não é competitiva pelo custo de captação maior que o da poupança.