Título: Empresários se articulam para renovar SGP
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2008, Brasil, p. A10

A novela para a renovação do Sistema Geral de Preferências (SGP) dos Estados Unidos - que permite que produtos brasileiros entrem no maior mercado do mundo sem pagar tarifa de importação e expira no fim deste ano - já recomeçou. Desta vez, uma polêmica externa deve prejudicar indiretamente o Brasil: a aprovação do acordo de livre comércio entre os EUA e a Colômbia pelo Congresso americano. Os empresários brasileiros começam a se organizar com viagens a Washington e contratação de lobistas. Em 2007, US$ 3,4 bilhões foram exportados pelo Brasil para os EUA via SGP, o equivalente a 14% das vendas para o país.

Uma queda-de-braço entre democratas e republicanos sobre política comercial dificulta a renovação do SGP. Os democratas, que controlam o Congresso, são simpáticos à renovação do sistema, que também beneficia países pobres como Guiné Equatorial e Chade. Os republicanos, porém, recusam-se a aceitar o SGP sem a aprovação dos acordos de livre comércio já assinados pela administração do presidente George W. Bush e ainda não aprovados pelo Congresso dos EUA com Colômbia, Panamá e Coréia do Sul.

E é neste ponto que a situação complica muito. O livre comércio tem sido alvo de ataques dos pré-candidatos democratas à Presidência dos EUA, Hillary Clinton e Barack Obama. Para concordar com novos acordos, os democratas exigem a criação de um "plano de assistência para ajuste ao comércio". A idéia é preparar as empresas americanas que serão afetadas pela concorrência externa antes da assinatura dos acordos. A proposta é capitaneada por nomes de peso entre os democratas, como o presidente do Comitê de Finanças, Max Baucus, e a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi.

Do lado dos republicanos, a aprovação do acordo de livre comércio com a Colômbia transformou-se em uma questão vital para a Casa Branca. A secretária de Estado, Condoleezza Rice, está se empenhando pessoalmente pelo acordo por conta de sua importância estratégica na América Latina. O senador republicano Charles Grassley, antigo "inimigo" do Brasil, também é um dos defensores. Para o governo Bush, o incidente diplomático entre Equador e Colômbia evidenciou que a região atravessa um momento instável, potencializado pela influência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

É esse turbilhão que ameaça engolir o SGP e atrapalhar mais uma vez sua renovação. "O pior cenário é que o impasse entre republicanos e democratas sobre o acordo com a Colômbia prejudique o clima de negociação e acaba contaminando o processo de renovação dos programas", avalia Mário Marconini, diretor de relações internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que esteve recentemente em Washington e se reuniu com assessores dos principais parlamentares que serão vitais na renovação do SGP.

Embora represente apenas 0,2% das importações americanas totais, o SGP está sempre envolvido em polêmica. A última renovação ocorreu no fim de 2006 e foi complicada para o Brasil. O país foi ameaçado de ser cortado do programa por acusações de não ser eficaz no combate à pirataria e em retaliação por sua postura ofensiva nas negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial de Comércio (OMC). Após intensa pressão do setor privado, o SGP foi estendido por mais dois anos, mas o setor de autopeças ficou de fora.

Para Marconini, os Estados Unidos dariam "um tiro no pé" se excluíssem o Brasil do sistema geral de preferências. Segundo levantamento da Fiesp, 40% das exportações brasileiras para os EUA via SGP representam matérias-primas para as empresas americanas e outros 8% são bens de capital. A China é o principal concorrente do Brasil em 63% dos produtos. Em reunião ontem na Fiesp, empresários dos principais setores beneficiados, como máquinas, móveis e químicos, começaram a traçar sua estratégia para mais um capítulo da novela da renovação do SGP.