Título: Demanda traz riscos à inflação, diz Ipea
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Fonte: Valor Econômico, 27/03/2008, Brasil, p. A10

Os técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) encamparam, ontem, durante divulgação da Carta de Conjuntura de março, a preocupação com a inflação. Para os técnicos, a trajetória preocupa principalmente devido ao aquecimento da demanda interna, à incerteza sobre a trajetória dos preços dos alimentos e ao nível elevado de utilização da capacidade instalada na indústria brasileira. Uma possível elevação da taxa básica de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, dia 16 de abril, contudo, foi rechaçada pelos economistas.

Para Miguel Bruno, um dos coordenadores do Grupo de Análises e Previsões do Ipea, seria "precipitado" um movimento de aumento dos juros. Atualmente, a taxa básica de juros está em 11,25% ao ano. Bruno acredita que o governo deve buscar alternativas a uma alta dos juros para tentar conter a demanda interna. "A Fazenda está certa ao tentar calibrar o crédito, porque aumentar os juros afetaria não apenas a demanda, mas tudo o mais", frisou Bruno, lembrando da dívida interna e do aumento de pressão no câmbio.

O Instituto projeta que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar este ano entre 4% e 5%. Mas a projeção de um IPCA sob controle para 2008 não impediu o Ipea de alertar para os riscos de maior pressão inflacionária. Marcelo Nonnemberg, também coordenador do grupo de análise, diz que o nível de utilização da capacidade da indústria se encontra ao redor de 83%, perto do pico histórico, e a população ocupada e o rendimento médio sobem, puxando a massa salarial.

"O crescimento forte da demanda mostra que devemos continuar nos preocupando com a inflação", afirmou Nonnemberg, citando a constante pressão dos alimentos sobre os índices de preços e o risco de elevação do preço da gasolina no país, que estão cerca de 20% abaixo dos valores cobrados no exterior.

A Carta de Conjuntura apresentou ainda a nova modalidade de projeções do Ipea, que leva em consideração uma faixa de variação para os indicadores. O instituto estima que o PIB do país vá crescer entre 4,2% e 5,2% este ano, puxado pelo consumo privado, que deve subir entre 6,1% e 6,7%. As estimativas englobam ainda uma alta entre 3% e 3,5% para o consumo do governo, e um crescimento entre 12,4% e 14,1% para a formação bruta de capital fixo.

Nonnemberg ponderou que o setor externo será o grande responsável caso se confirme o resultado mais modesto para o crescimento do PIB este ano. Ainda que o resultado final reflita a estimativa mais otimista do Ipea, de 5,2%, ficará abaixo dos 5,4% verificados no ano passado.

"A redução esperada do superávit comercial faz com que a projeção do PIB seja um pouco menor que o verificado no ano passado", frisou Nonnemberg, acrescentando que a contribuição negativa do setor externo deve chegar a 2,6% este ano, contra 1,8% negativo no ano passado. O instituto acredita ainda que o impacto da crise americana sobre a economia brasileira este ano será limitado, com maior impacto no fim do ano e em 2009.

Ainda ontem, o Ipea divulgou a projeção para o crescimento da produção industrial brasileira em fevereiro. A estimativa é de uma alta de 9,7%, na comparação com fevereiro de 2007, e de uma queda de 0,4% em relação a janeiro, na série com ajustes sazonais. O IBGE divulgará o resultado oficial na próxima terça-feira.