Título: Negócios registram recorde no trimestre impulsionados por novatas do mercado
Autor: Vieira , Catherine ; Valenti , Graziell
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2008, Empresas, p. B2

O ano começou quente para as companhias. Capitalizadas, elas não esperaram nem passar o Carnaval para acelerar os negócios. Aproveitaram o caixa cheio e foram às compras cheias de apetite.

Só no primeiro trimestre foram concluídas mais de 50 operações por companhias abertas, que movimentaram perto de US$ 5 bilhões, de acordo com levantamento do Valor e da Broadspan Capital, instituição especializada em assessorar negociações e no preparo de empresas para o mercado. Ontem, mais um grande negócio foi anunciado: a fusão entre Bovespa e BM&F.

Estudo trimestral da KPMG mostra recorde histórico para os três primeiros meses do ano, com 150 transações. Em relação ao mesmo período do ano passado, que já havia sido recorde, houve alta de 34%. O primeiro trimestre costuma ser sazonalmente mais fraco. "No máximo, 20% dos negócios do ano completo", afirma Luís Motta, sócio responsável por fusões e aquisições da KPMG.

Para especialistas, a agitação é sinal de que muito mais deve vir. A atividade no começo de ano torna o cenário favorável a uma nova marca histórica anual. Os segmentos que lideraram a rodada nestes primeiros meses foram os de carnes e frangos, educação, tecnologia e imobiliário.

Enquanto não gastarem o que obtiveram na bolsa, as empresas terão combustível para manter o ritmo acelerado das transações. No segundo semestre, negócios conduzidos por fundos de participação devem engordar ainda mais os rankings de fusões e aquisições.

Com o dinheiro arrecadado nos últimos dois anos com as ofertas iniciais de ações, as companhias têm fôlego para continuar um ciclo forte de compras pelo menos durante este semestre. Só em 2006 e 2007, as ofertas agregaram R$ 53 bilhões ao caixa das empresas abertas ou de estreantes na Bovespa. As transações lideradas pelas novatas responderam por um terço das negociações medidas pela KPMG. Para Motta, mesmo que neste ano as companhias não retomem as ofertas de ações, os negócios devem continuar forte. "Há uma dinâmica represada."

"Este início de ano reflete a continuidade de uma tendência que já se desenhava em 2007. A maior parte dos negócios fechados já vinha sendo tratada e foi financiada com o caixa feito das emissões de ações", observa Leonardo Antunes, diretor da Broadspan. "O ritmo deve continuar acelerado no primeiro semestre porque muitas empresas ainda não conseguiram usar o dinheiro captado. Só depois disso é possível que a força dos negócios diminua."

Renato Ochman, do escritório Modesto, Eizirk, Ochman e Real Amadeo Advogados, acredita que a redução na quantidade das aberturas de capital, em razão da deterioração do cenário externo, ajudou a acelerar as negociações. Além das companhias estarem capitalizadas e os ativos mais baratos, ele destaca que os bancos assessores das transações têm mais interesse em estimular os negócios, com a diminuição da listagem de novatas na bolsa.

Os setores nos quais existe grande pulverização e regionalização, como é o caso do imobiliário e educacional, acabam sendo os protagonistas naturais das operações de compra, pois as empresas que conseguiram abrir capital avançam sobre as outras para obter escala.

Para Ochman, o aumento da seletividade do investidor para ações também estimula aquisições. "As companhias estão buscando crescer antes de ir à bolsa." Mas enfatiza a importância das aberturas de capital para ativar os negócios. "Todo empresário, desde o boom do Novo Mercado, sabe que pode se preparar para uma [oferta inicial] no futuro ou para vender seu negócio para uma empresa mais capitalizada."

Com o arrefecimento das listagens de ações, é possível perceber empresas que conseguiram abrir capital num momento positivo avançar sobre aquelas que ainda preparavam suas ofertas. A Brascan Residential Properties, que estreou na bolsa em 2006, anunciou estar em fase final de negociação para comprar a MB Engenharia, que chegou a pedir registro para oferta de ações, mas desistiu por conta das tensões globais. Já somam 18 as desistências de oferta na Bovespa neste ano, em razão da volatilidade dos mercados.

No setor de frigoríficos, as companhias buscam aquisições dentro e fora do país que tragam novos mercados e produtos. Para Felipe Andrade, um dos sócios da Broadspan, os negócios seguirão fortes também nos segmentos de saúde e tecnologia, pois há empresas mais capitalizadas que outras. Esse movimento começou a dar sinais com as aquisições feitas pela Odontoprev, a Bradesco Seguros e Drogasil.

Com o dólar em baixa, é possível esperar alta nas transações internacionais - companhias brasileiras comprando estrangeiras. "É um atrativo para as empresas buscarem ativos, principalmente, nos EUA", diz o especialista da Broadspan. A JBS Friboi, mesmo depois de tornar-se líder global após a compra da Swift, gastou mais US$ 1,7 bilhão em outras três investidas internacionais.