Título: Moinhos promovem novo reajuste de preços puxado por alta do trigo
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2008, Agronegócios, p. B19

Os moinhos brasileiros deverão fazer em abril um reajuste de 10% nos preços de farinhas e derivados, como reflexo da alta da matéria-prima no mercado internacional. Neste mês de março, o repasse foi de 20%. Segundo Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, boa parte dos moinhos opera com estoques relativamente baixos, suficientes para mais um mês de consumo.

Sem a liberação dos registros de exportação da Argentina, que postergou a decisão para o final de abril, os moinhos têm de buscar a matéria-prima de outros mercados, como os Estados Unidos. Mas por causa dos altos custos para trazer o trigo do mercado americano, as indústrias moageiras do país estão limitando neste momento as importações.

Levantamento da Safras&Mercado mostra que o preço da tonelada do trigo americano posto nas indústrias de São Paulo chega a R$ 923. O trigo argentino sairia por R$ 871 (caso a importação estivesse liberada) e a matéria-prima vinda do Paraná chegaria a R$ 825. Nos últimos 12 meses, os preços do trigo americano sofreram um valorização de 114%; o argentino, de 125%, e o paranaense acumula uma alta de 65%. No mesmo período, o reajuste dos moinhos foi de 44%.

Ontem, os contratos do trigo para entrega em julho fecharam a US$ 10,7250 o bushel na bolsa de Kansas, uma retração de 32,50 centavos. Na bolsa de Chicago, os contratos para julho fecharam a US$ 10,3250 o bushel, com baixa de 36 centavos.

De acordo com Pih, os moinhos querem evitar a importação do trigo americano porque acreditam que não terão espaço para repassar novos reajustes.

Fontes do mercado afirmam que quatro moinhos paulistas estariam parados e que pequenas indústrias moageiras do Paraná estariam na mesma situação. Procurados pelo Valor, os sindicatos das indústrias moageiras do Paraná e São Paulo não confirmaram a informação.

Roland Guth, presidente do Sindicato das Indústrias Moageiras do Paraná, afirmou que há nas mãos dos produtores e cooperativas do Estado cerca de 200 mil toneladas de trigo. No entanto, as vendas estão em ritmo lento.

Os volumes estocados pelos moinhos fazem parte das compras antecipadas em novembro da Argentina, antes de o país fechar os registros de exportação. Àquela época, os moinhos importaram 3 milhões de toneladas, mas apenas 2,25 milhões de toneladas entraram no país. O restante entraria até março, o que até o momento não ocorreu.

Forte dependente das importações, o Brasil deverá buscar este ano 7,2 milhões de toneladas de trigo (dos quais cerca de 1 milhão de toneladas em farinha) da Argentina, sobretudo, Estados Unidos, e Leste Europeu.

Segundo Luiz Martins, presidente do Sindicato das Indústrias do Trigo do Estado de São Paulo, as indústrias deverão discutir nos próximos dias a situação do setor com o governo.

A quebra da safra dos principais países produtores, como Austrália e Europa, tem impulsionado a alta dos preços dos cereais desde o final de 2006. A forte valorização dos preços do trigo levou alguns países, como a própria Argentina, importante exportador, a Rússia e o Cazaquistão, a barrar as vendas externas para conter a inflação.