Título: Novo fundo financiará aquisições da JBS
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Fonte: Valor Econômico, 27/03/2008, Agronegócios, p. B20

Um fundo de investimentos em participações (FIP) que terá como cotistas o BNDES e os fundos de pensão Petros e Funcef, além do JP Morgan, vai financiar parte das últimas aquisições feitas pela JBS-Friboi no exterior, que somaram US$ 1,7 bilhão. O valor total do fundo pode ficar entre R$ 1,4 bilhão e R$ 1,720 bilhão. O BNDESPar terá 45% de participação no novo fundo, Petros e Funcef ficarão com 25% cada um e o JP Morgan, com 5%. Com a participação no capital da JBS, desta vez indireta, a fatia do BNDES na empresa será de quase 21%.

O novo fundo, que está em fase de aprovação pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entrará na JBS na próxima operação de aumento de capital da empresa, na qual serão ofertadas, em emissão para subscrição privada, 360,678 milhões de novas ações, o equivalente a R$ 2,550 bilhões.

A emissão foi o meio encontrado pela brasileira JBS para pagar pelas três novas empresas adquiridas no exterior, a National Beef e a Smithfield Beef, nos Estados Unidos, e o Tasman Group, na Austrália, no início deste mês.

O fundo terá uma participação de 16,7% no capital da JBS. Hoje os controladores têm 64% do capital da empresa, o BNDESPar, 12,95% e o restante está em circulação no mercado. Com o aumento do capital via subscrição de ações, a participação do controlador cairá para 50,10%.

O presidente do fundo de pensão da Petrobras, Wagner Pinheiro, afirma que o investimento na JBS se encaixa na estratégia da Petros de diversificação e de migração de recursos de títulos públicos federais para a renda variável. O Petros também quer aumentar os investimentos no setor de alimentos. "Olhamos empresas de escala mundial", diz Pinheiro.

Outra companhia, também internacionalizada, que está no portfólio de investimentos da Petros é a Perdigão. O fundo tem 12% do capital da empresa. "Entramos na Perdigão em 1994 e nesses 14 anos, a rentabilidade real obtida foi superior a 25% em média por ano", afirma.

Em relação à JBS, Pinheiro não faz previsões sobre rentabilidade, mas diz que a perspectiva é boa. O certo, em sua avaliação, é que no médio prazo (5 a 10 anos), "a possibilidade de valorização é muito superior às taxas de títulos públicos federais".

Além de a JBS ter produção em diversos países, o que reduz os riscos em caso de eventuais embargos como o imposto temporariamente pela União Européia no começo deste ano, Pinheiro observa que "o consumo de carne [em países ricos] não se altera em casos de recessão".

Também em busca de diversificação em seus investimentos, a Funcef, fundo de pensão da Caixa Econômica Federal, terá 25% do novo fundo. O presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, vê boas perspectivas de rentabilidade no médio prazo e destaca a internacionalização da JBS como fator de atração para o investimento. O crescimento rápido da JBS, que assusta/surpreende analistas, anima Lacerda. "É uma empresa pé no chão, que conhece o setor".

Eventuais impactos da crise internacional sobre o desempenho do setor de carnes também não assustam Lacerda. "O mercado internacional de carne tem elasticidade de renda diferente. Não é a crise nos EUA que fará o americano parar de comer hambúrguer", observa. Nos Estados Unidos, a JBS já havia adquirido a Swift em meados do ano passado, por US$ 1,4 bilhão.

Para contar com a participação do novo fundo em seu capital, a JBS se comprometeu com melhorias em sua governança corporativa. O novo fundo terá direito a um representante no conselho de administração da empresa, que terá comitês de finanças e de auditoria. Além disso, entre outras alterações, será criado um conselho fiscal permanente e a empresa terá de publicar balanço socioambiental, segundo o presidente da Petros.