Título: Crise estimula remessas de lucros em emergentes
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2008, Finanças, p. C4

A crise externa vai ajudar a ampliar as remessas de lucros e dividendos das empresas estrangeiras instaladas no Brasil, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima. "O aumento nos lucros com o crescimento econômico brasileiro vem em um bom momento para matrizes com necessidade de caixa." Mas, na comparação com Chile, Hong Kong e Argentina, o Brasil remete menos rendas para o exterior em relação ao estoque de investimento externo direto existente no país, diz estudo da Sobeet ao qual o Valor teve acesso e que será divulgado hoje.

Compilando dados nos bancos centrais de diversos países emergentes, os economistas da Sobeet puderam notar também o crescimento geral das remessas de rendas brutas do investimento externo direto - que incluem, além dos lucros e dividendos, também lucros e dividendos reinvestidos e empréstimos intercompanhias. Foi assim na Argentina, Brasil, Chile, Turquia, Hong Kong e México.

A rentabilidade sobre o estoque de capital externo (relação entre esse estoque e as rendas brutas remetidas), que chegava a 28,2% no caso do Chile, era de 9,6% no caso da Argentina e de 7,9% em Hong Kong. No Brasil, era de 5,8%, no México, de 3,1%, e na Turquia, de 1,5%. Os dados são de 2006. "Não há qualquer exagero na rentabilidade do investimento externo direto no Brasil", afirma o presidente da Sobeet.

Além disso, argumenta ele, as remessas de renda não passaram o total de investimento externo direto recebido e não há deinvestimento, diz. No ano passado, foram US$ 19,5 bilhões de remessas de renda e o país recebeu US$ 34,5 bilhões de investimento externo direto. Para este ano, a previsão da Sobeet é de aumento de 35% nas remessas, para US$ 24 bilhões, e de investimento externo direto de US$ 35 bilhões.

De acordo com estudo, o setor que tem feito mais remessas em relação ao estoque de investimento externo direto nos últimos cinco anos é de longe a indústria. O estoque era de US$ 94,345 bilhões em janeiro, na comparação com as remessas líquidas de lucros e dividendos de US$ 10,974 bilhões em 12 meses acumulados em janeiro, uma relação de 11,6%, portanto.

O setor de serviços vinha em segundo lugar, com US$ 148,262 bilhões de investimento direto externo em estoque, na comparação com remessas de US$ 6,4 bilhões, uma relação de 4,3%. No segmento de agricultura, pecuária e indústria extrativa mineral as remessas de US$ 400 milhões representam apenas 2,5% do estoque de US$ 15,831 bilhões de investimento externo direto.

O estudo nota que o setor primário teve um aumento de 71% no estoque de investimento externo direto de 2005 até o acumulado em 12 meses que terminou em janeiro último, mais do que o total de 31% que considera também os setores secundário e terciário. No entanto, o envio de lucros e dividendos no setor primário caiu 21% no mesmo período. "Ao que tudo indica, os investimentos recentes em agribusiness ainda não estão maduros o suficiente para gerar remessas, que portanto devem aumentar daqui para a frente", afirma. A Sobeet calcula que o tempo médio entre o investimento e seu retorno no Brasil seja de 7 trimestres.

A partir de dados mensais, a Sobeet verificou que entre janeiro de 2005 e janeiro de 2008 oito países concentraram cerca de 78% do total de remessas líquidas de lucros e dividendos brasileiras: Estados Unidos, Espanha, França, Itália, Japão, Luxemburgo, Países Baixos e Suíça.

Em 2008, Lima acredita que as remessas de lucros e dividendos do Brasil vão crescer em função do real valorizado. Ele prevê o dólar ao nível de R$ 1,75 no final deste ano, em linha com o mercado.

O crescimento do Produto Interno Bruto brasileiro de 4,5% também vai tornar os lucros das multinacionais no Brasil maiores, avalia Lima. O próprio crescimento no estoque de investimento externo direto ao país estimula mais remessas.

De 95 a 2007, o estoque de investimento externo direto no Brasil cresceu nada menos do que sete vezes, de US$ 42 bilhões para US$ 287 bilhões. De 95 a 2006, foi de 5,7 vezes, enquanto os estoques mundiais se expandiram quatro vezes e o dos países em desenvolvimento, 3,4 vezes.