Título: PT escolhe conservador para disputar eleição no Rio
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2008, Política, p. A11

Alessandro Molon: aposta no patrocínio do governo federal e do governo estadual para tentar sair do último lugar nas sondagens de intenção de voto O deputado estadual do PT Alessandro Molon, católico praticante ligado a correntes conservadoras da Igreja, como a Renovaçãom Carismática, entrou ontem formalmente na disputa eleitoral para prefeito do Rio, ao vencer Vladimir Palmeira nas prévias do partido, com 81% dosvotos. Aos 36 anos, concorrerá ao cargo com o senador do PRB Marcelo Crivella, pastor da Igreja Universal, e com o deputado federal do PV Fernando Gabeira, defensor de idéias polêmicas no Brasil, como a legalização do uso de drogas e a igualdade dos direitos civis aos homossexuais.

Desconhecido na cena política nacional, Molon teve sua candidatura fortalecida na semana passada depois que o governador do Rio, Sérgio Cabral, costurou a aliança do PMDB com o PT no Estado. Cabral, cabo eleitoral importante na cidade, desistiu de lançar a candidatura do seu secretário de Turismo, Esporte e Lazer, Eduardo Paes, sob pressão de parte do PMDB local, principalmente do presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), Jorge Picciani. A solução foi a formação de uma coligação na qual o PMDB tem o atual chefe da Casa Civil estadual, Regis Fichtner, como vice do candidato do PT. Além do apoio federal e estadual, Molon também deverá reunir o maior tempo no horário eleitoral gratuito: cerca de dez minutos diários, se a aliança se limitar a PT e PMDB.

"Molon tem mais legitimidade para usufruir os ganhos do governo Lula, que tem hoje muita popularidade. Quem perde é o Crivella, porque fica implícito o apoio de Lula a Molon. E Molon não é um candidato 'rebelde', é aceito pela direção do partido", diz o cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).

Crivella é atualmente o favorito, segundo as pesquisas de intenção de voto. Na pesquisa divulgada ontem pelo jornal "Folha de S.Paulo", feita pelo Datafolha, o senador atingiu 20% das intenções de voto, seguido por Jandira Feghali (PC do B) com 18%, Gabeira (PV-PSDB) com 9%, Solange Amaral (DEM), com 9%, Chico Alencar (P-SOL) com 8%, Coronel Jairo (PSC) com 4% e Molon não passa de 1% .

Sobrinho do líder da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, Crivella é do mesmo partido do vice-presidente da República, José Alencar e poderia capitalizar a aliança nacional em um eventual segundo turno caso o PMDB não tivesse fechado a coligação, diz Figueiredo, para quem ainda a candidatura de Gabeira não conseguirá sair da zona sul carioca e conquistar o voto das camadas populares.

O candidato do PT chega a fazer um contraponto com algumas idéias de Gabeira, que disputa a prefeitura em uma aliança do PV com o PSDB e o PPS. Molon é contrário à legalização do aborto e do consumo de drogas, por exemplo. "Atuei alguns anos na Pastoral da Crisma e no Movimento Deus é Dez, que não são alas vinculadas às questões sociais", afirmou.

Sobre o uso de células-tronco para pesquisas, tem posição pouco clara. "Sou a favor do avanço científico, desde que sempre balizado por critérios éticos, levando em conta que é uma questão que deve ser aprofundada sob os aspectos médico, jurídico e filosófico", disse. Ex-professor de História do ensino médio e bacharel em Direito, Molon filiou-se ao PT há 11 anos.

Em 2000, disputou uma vaga na Câmara Municipal do Rio e ficou apenas com a suplência. Conseguiu ser eleito em 2002, quando foi o mais votado do PT para deputado estadual tanto no Estado quanto na capital. Em 2006, foi reeleito deputado e obteve novamente a maior votação na cidade e no Estado do Rio dentro do PT. Militante na defesa dos Direitos Humanos, Molon preside a comissão sobre o tema na Alerj e atua na também na de Educação.

O candidato diz não ser ligado a nenhuma corrente do PT e é uma nova aposta do partido no Rio, que sempre se dividiu entre os grupos da ex-governadora Benedita da Silva, atual secretária estadual de Assistência Social, e do ex-deputado federal Vladimir Palmeira. "Sou independente e isso foi fundamental para construir a unidade dentro do partido. Tivemos apoio de diversas correntes e isso permitiu que a candidatura fosse vista como do PT e não de um campo ou tendência do partido".

Molon acredita que a presença de Cabral, forte aliado do presidente Lula, vai mostrar aos eleitores que ele é o candidato mais viável para recuperar o Rio de Janeiro, após três mandatos do prefeito Cesar Maia (DEM). "Nossa candidatura traz a certeza da soma de esforços com o Estado e a União. O PT e o PMDB, o presidente Lula e o governador chancelam minha candidatura para ganhar", diz.

Entre as áreas que pretende concentrar atenção se for eleito, cita a da Saúde, que na sua opinião, chegou ao "fundo do poço" com a atual epidemia de dengue na cidade. "O prefeito Cesar Maia não fez o que devia ter feito, não apostou em receitas que estão dando certo no Brasil inteiro, como o Programa Saúde da Família, que cobre apenas 8% da população do Rio. Em Belo Horizonte, a cobertura é de 65%", afirma.

O petista também vê a necessidade de construir habitações populares e reorganizar o sistema de transporte para frear o aumento das favelas. Diz, entretanto, que o município deve apoiar as ações de urbanização de favelas previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.

Molon defende parcerias com o governo do Estado na área da Segurança Pública. Menciona a expansão da rede de iluminação pública para inibir a prática de crimes na rua ou da oferta de opções de cultura e esporte a jovens de áreas pobres com o intuito de evitar a entrada na criminalidade.