Título: Pequenos negócios aquecem mercado de domínios na web
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2008, Empresas, p. B2

Érica Saito, executiva da VeriSign na América Latina: adesão de profissionais liberais ajudou a impulsionar o negócio Até alguns anos atrás, poucas empresas brasileiras de pequeno e médio portes pareciam animadas em registrar um nome de domínio na internet, o equivalente à carteira de identidade no mundo digital. O resultado era uma enorme quantidade de companhias perambulando sem documento pelo ciberespaço. Agora, no entanto, parece que esse cenário - que já começara a mudar em 2006 - está pronto para dar seu primeiro grande salto.

Um relatório da companhia americana VeriSign - que detém os direitos exclusivos de venda dos endereços ".com" e ".net" no mundo - mostra que o número de registros desses domínios no Brasil, que já havia aumentado 73% em 2006, voltou a crescer 71% no ano passado. É um desempenho ligeiramente inferior, mas com a virtude de ter uma base de comparação muito maior. Trata-se também do triplo da média de crescimento mundial, que foi de 24% em 2007.

"A venda de domínios no Brasil vem crescendo a cada ano e ainda não atingiu seu 'boom'", diz Ramiro Lobo, diretor da Hostnet, uma das cinco empresas autorizadas pela Icann - a principal autoridade global do setor - a negociar os registros ".com" e ".net" no país.

Os demais distribuidores oficiais são iG, Locaweb, Nomer.com e UOL. Em todas essas empresas, em que pesem diferenças como tempo de atuação e o tamanho da companhia, os sinais são positivos. O iG, que entrou no negócio em outubro de 2006, já reúne 15 mil clientes e tem expectativa de dobrar sua base neste ano. A Nomer.com, que atende a 30 mil usuários, obteve um crescimento de 31% da base em 2007, enquanto a Hostnet registrou 21 nomes de domínio ".com" e ".net" no ano passado, renovando outros 14 mil. A Locaweb, que está em período de silêncio, prepara-se para fazer sua oferta pública inicial de ações.

Todo esse apetite acabou despertando o interesse do UOL. Para ganhar músculos, a companhia adquiriu a carteira de clientes da Plug In, em novembro de 2007, e da Digiweb, em fevereiro desde ano. "Estamos atendendo a 20 mil clientes no UOL Host, nosso serviço de hospedagem de sites e registro de domínios", diz Gil Torquato, diretor corporativo do UOL.

Dois tipos de público estão puxando os domínios no Brasil. "São as pequenas empresas e os profissionais liberais", diz Érica Saito, gerente regional de serviços de informação da VeriSign na América Latina. É difícil definir os limites entre os dois grupos. Em muitos casos, os domínios são registrados em nome de uma pessoa física, mas com fins empresariais. Tratam-se de usuários como dentistas e advogados que, em vez de abrir uma empresa, trabalham como profissionais liberais.

"Esse mercado é enorme", concorda Ricardo Vaz Monteiro, diretor executivo da Nomer.com. Da base total de clientes da companhia, metade é formada por usuários que se encaixam nessa categoria - a de profissionais que poderiam ter uma empresa, mas preferem não fazê-lo. Isso explica, em parte, porque muitos interessados estão partindo para um registro ".com", que não requer CNPJ, em vez de um domínio ".br", em que há esse tipo de exigência. No iG, 65% das vendas de registros são ".com", sem a extensão reservada ao Brasil.

O assunto tem sido muito discutido no Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e alguns participantes do órgão prevêem para breve uma mudança nas regras.

Independentemente do perfil dos novos usuários, a onda de adesão obedece aos mesmos motivos: o custo baixo e a percepção de que, com o avanço da web para vender produtos ou criar marcas, não ter um domínio pode ser um tiro no pé.

"Houve uma queda progressiva nos preços dos domínios", observa Lobo, da Hostnet. Hoje, o registro de um domínio ".com" custa R$ 15 por ano. O ".br" sai por R$ 30. É um ponto no qual a VeriSign e os distribuidores têm batido com insistência. "É preciso mostrar que isso é algo acessível", diz Flávio Elizalde, diretor adjunto do iG Empresas.

Entre as pequenas companhias, é corrente a idéia de que o custo de um domínio é proibitivo. Em muitas, os administradores ainda acham que as extensões ".com" são exclusivas de companhias americanas ou com negócios no exterior.

Aos poucos, porém, à medida que as regras ficam mais claras, as pequenas empresas começam a atribuir maior valor aos domínios, mesmo que não tenham planos imediatos de construir um site. "Depois do registro, o próximo passo na cadeia de valor é ter um e-mail e não montar um site", afirma Elizalde, do iG. O e-mail com nome da empresa confere ao negócio uma seriedade que serviços gratuitos, como Hotmail e Gmail, não podem garantir, diz o executivo. Entre os distribuidores, é consenso que o uso desse tipo de e-mail causa desconfiança quando a mensagem trata de um negócio, seja o aluguel de uma casa por uma imobiliária ou o orçamento de um tratamento dentário.

Para os distribuidores, o domínio é importante porque funciona como porta de entrada para serviços mais sofisticados e, claro, mais caros. A hospedagem de sites é o caso mais típico, mas algumas companhias estão formando gordas carteiras de ofertas, com combinações que começam na faixa dos R$ 15, mas podem ultrapassar os R$ 1 mil quando o uso do site requer equipamentos exclusivos.

Essa diversificação, por exemplo, é a estratégia do UOL. Nos últimos meses, a companhia passou a montar um quebra-cabeça de produtos baseado nas suas aquisições e na criação de serviços próprios. "Oferecemos acesso sem fio, links patrocinados, serviços de segurança e sistema de pagamento, entre outros itens", diz Vinicius Pessin, diretor do UOL Host. O próximo passo será o lançamento de um loja on-line para ajudar o cliente no comércio eletrônico. "A previsão de lançamento é de dois meses", afirma Pessin.

O empenho dos distribuidores é proporcional ao campo de atuação que eles antevêem. Uma das projeções é a de que, dos 8 milhões de pequenas e médias empresas brasileiras, 1,6 milhão tem um domínio registrado, o que deixa aberto um campo 80% ainda inexplorado.