Título: Safra cria carteira Petrobras e Vale com proteção de capital
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2008, Eu & Investimentos, p. D2

Aproveitando a fascinação dos investidores pelas ações de Petrobras e Vale, o Banco Safra de Investimentos criou uma carteira que, além de reunir os dois papéis, ainda oferece proteção para o principal investido. A carteira, batizada de Safra Blue Chip, divide os recursos em outros dois fundos, um só de Petrobras e outro só de Vale, ambos com proteção de principal, mas independentes. Assim, se no vencimento da aplicação, em 31 de julho do ano que vem, um deles tiver caído e o outro subir, o investidor recebe 90% do ganho da ação em um e o principal aplicado no outro que perdeu.

Já se uma das duas ações subir mais de 45% em algum momento de existência do fundo, o investidor leva uma taxa fixa de 18% nesse fundo e o ganho de pelo menos 90% da ação do outro que não estourou o limite. Ou, se os dois estourarem o limite de 45% de alta, o investidor fica com a taxa prefixada nos dois. Mas, se tanto Petrobras quanto o Vale caírem, o investidor leva o principal nos dois.

A carteira vem bem a calhar em um momento em que Vale e Petrobras caíram no gosto dos investidores. Até 20 de março, esses fundos captavam juntos R$ 1,7 bilhão, para um resgate de cerca de R$ 300 milhões nas demais carteiras de ações, segundo dados do site Fortuna. Além disso, neste momento de instabilidade dos mercados, a proteção de principal se torna mais valorizada pelo investidor, explica Carlos Alberto Torres de Melo, diretor geral da área de gestão de recursos do Safra. "Petrobras e Vale são dois papeís que gostamos, acreditamos nos fundamentos dos dois por conta da força do mercado de commodities, e são ações que o investidor gosta de ter em carteira", diz ele. "Mas muita gente tem medo de uma queda porque esses papéis subiram muito no ano passado."

Este é o segundo fundo com capital protegido lançado pelo Safra este ano. O primeiro, criado em janeiro, tinha como referencial o Índice Bovespa. E Melo acredita que a garantia de principal continuará atraindo os investidores. "São fundos para pessoas que gostam de renda variável, vêem uma oportunidade no momento atual, mas tem medo de uma perda pela situação do mercado", diz. Além disso, Melo destaca os ganhos embutidos na operação. "O teto de 45% de alta para a ação é quatro vezes o CDI e a taxa de 18% ao ano também está em torno de 150% do referencial, e ainda há a proteção de principal", lembra ele. Animado com a estratégia, Melo pretende criar carteiras com outros papéis também com limitador de perda nos próximos meses. "Esse é o charme da aplicação."

O fundo é montado a partir de operações no mercado de opções com "nocaute", ou seja, que só passam a valer se o papel atingir determinado valor, como um gatilho. É por isso que há os limites de alta de 45%. O fundo paga também 90% do ganho do papel, pois parte do retorno vai para pagar o prêmio da opção (direito de comprar ou vende um papel a um preço preestabelecido) para a contraparte. "Mas esse percentual de 90% do ganho pode subir, dependendo do comportamento do mercado", explica Melo.

O Safra Blue Chip tem aplicação mínima de R$ 50 mil e aceitará investimentos até dia 4 de abril, sexta-feira. A taxa máxima de administração é de 3,5% ao ano.

Melo diz que não há uma fuga de investidores dos fundos de ações por conta da instabilidade da bolsa este ano. Mas admite que alguns investidores sacaram de fundos de ações para aplicar em carteiras conservadoras, como os DIs. "Em geral eram aplicadores novos, que não entediam muito do mercado." Segundo ele, maior impacto tiveram os multimercados, que apresentam fortes resgates este ano. "Na média, o investidor em ações sabe que está correndo o risco da bolsa e que a aplicação é para o médio e longo prazos".

Além disso, lembra ele, muitos investidores aplicaram em multimercados no início do ano passado pensando que os mercados só subiam e pegaram toda a perda do segundo semestre com a crise das hipotecas americanas. "Havia também a visão de que o multimercado ganha tanto na alta quanto na baixa, o que não se confirmou, também porque são carteiras que exigem um prazo maior de aplicação, de um ou dois anos", afirma ele.

O dinheiro novo dos investidores também está indo para fundos DI, mais conservadores, evitando o risco, afirma Melo, o que é um movimento normal. Segundo o executivo, a bolsa brasileira deve continuar reagindo ao estresse do mercado americano no curto prazo. "A situação é preocupante lá fora porque envolve crédito e crescimento", diz. Mas, em um horizonte mais longo, a situação brasileira é boa.