Título: Faltam executivos preparados para o setor de resseguro
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Fonte: Valor Econômico, 31/03/2008, EU & Investimento, p. D6

Mauro Wassilewsky Caetano, após 12 anos no exterior, voltou ao Brasil para trabalhar com resseguro na SulAmérica Muitas vagas e poucos profissionais no mercado. O setor de resseguro, que foi aberto à competição estrangeira no ano passado depois de 69 anos de monopólio estatal, está à caça de talentos. O resseguro é o seguro do seguro, necessário em grandes apólices, como uma plataforma de petróleo ou um avião, na qual a seguradora não consegue arcar com todo o risco e por isso repassa a maior parte para resseguradoras.

O mercado brasileiro se abre para o setor privado a partir do dia 17 de abril, quando a legislação que regulamenta o setor entra em vigor. Por isso, as empresas correm contra o tempo para se preparar. Só nas resseguradoras, a estimativa é que estejam sendo criadas 700 vagas diretas. Incluindo as corretoras de resseguro, este número sobe para mil postos de trabalho. Além disso, as seguradoras que operam com grandes riscos também vêm reforçando as áreas de resseguro e estão atrás de executivos.

O problema é que não existe atualmente este número de profissionais no mercado que entendam do setor de resseguro, com seus contratos milionários e complexos. "Está sendo criado um mercado novo. O setor vive um momento de ebulição", afirma Armando Vergilio dos Santos, presidente da Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquia que recebeu do Governo Federal a tarefa de regular e fiscalizar o setor de resseguro.

O mercado deve ter um total de 130 empresas, incluindo resseguradoras e corretoras de resseguro, fora as empresas de gestão de risco e consultorias. Só nos últimos dias, a Susep aprovou a criação de seis corretoras e duas resseguradoras. Mas todo dia estrangeiros chegam na sede da autarquia, no Rio, para entregar os documentos necessários para operar no Brasil. O país, junto com Cuba, foi um dos últimos mercados do mundo a ter o setor de resseguro monopolizado e fechado à competição.

Uma das empresas que está contratando é a J. Malucelli. A seguradora paranaense vai criar uma resseguradora enxuta, porque inicialmente pretende focar no mercado de seguro garantia (apólice que garante as obras que serão concluídas dentro do prazo previsto no contrato). Terá cinco profissionais, que estão sendo procurados no mercado, segundo Alexandre Malucelli, vice-presidente da seguradora. A idéia é formar alguns executivos dentro de casa. Por isso, a JM também busca recém-formados.

Para tocar as operações da nova empresa, a JM tirou da concorrente UBF Seguros o executivo Luiz Alberto Pestana, que conhece o setor de resseguros por ter trabalhado na Munich Re, segunda maior resseguradora do mundo. A Munich Re também está criando uma empresa no Brasil, que deve ter em torno de 50 funcionários.

"Não há esse número de profissionais no mercado hoje", afirma Paulo César Pereira Reis, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Resseguro (Aber). Para ele, uma das saídas será intensificar o treinamento dos executivos. Além disso, algumas resseguradoras vão trazer profissionais da matriz para começar a tocar as operações aqui.

A própria empresa onde Pereira trabalha, a Transatlantic Re, é mais um exemplo da movimentação do mercado. Com um pequeno escritório de representação no Rio, a resseguradora definiu na semana passada a sua estratégia para operar no Brasil. Terá um escritório com cerca de 25 executivos e vai atuar em todos os ramos do resseguro.

Ricardo Barcelos, gerente da estrutura de seguros da Michael Page, empresa de recrutamento de executivos, diz que o movimento é intenso na busca de profissionais, mas o mercado anda "extremamente carente" de executivos. Segundo Barcelos, três movimentos ocorrem nas resseguradoras. A busca de profissionais nas áreas de grandes riscos de seguradoras ou em outros setores, como advogados (para estruturar os contratos) ou engenheiros (para a subscrição das apólices). Para posições de alto nível, executivos brasileiros que atuam em resseguradoras no exterior estão voltando.

Exemplo disso é o engenheiro paulista Mauro Wassilewsky Caetano, que ficou 12 anos lá fora. Ele trabalhou por seis anos na Alemanha, nas seguradoras HDI e na Gerling, onde também fez curso de especialização em resseguro. Passou pela corretora Aon, em Londres, e também ficou dois anos nos Estados Unidos, novamente na HDI. Com experiência em grandes contratos e no mercado de resseguro aberto, Caetano voltou ao Brasil para ajudar a consolidar a área de grandes riscos da SulAmérica e preparar a seguradora para atuar no mercado aberto. "A colocação adequada do risco será o fator mais importante e vai exigir profissionais qualificados", diz.

Estão sendo criadas três tipos de resseguradora. A mais importante é chamada de "local", quando se constitui uma empresa no país. Hoje, só o IRB Brasil Re, estatal que tinha o monopólio do setor, se enquadra nesta categoria. Mas outras quatro estão em processo de constituição. Entre elas, a J. Malucelli e Munich Re já anunciaram que vão criar empresas locais. Devem ser criadas cinco empresas como estas.

Além das "locais", há as "admitidas", resseguradoras estrangeiras que operam por meio de escritório de representação. Esta será a forma mais comum de atuação. A Susep projeta entre 20 e 25 resseguradoras admitidas. General Re, Transamérica Re, Paris Re, Transatlantic Re, Hannover Re figuram entre as novas empresas do segmento. Por fim, há as "eventuais", que nomeiam representantes para atuar no país.

A falta de executivos qualificados acabou sendo um ponto para as estrangeiras definirem em qual categoria se enquadrar. A Scor Re, por exemplo, optou por ser "admitida", com um estrutura menor, porque via dificuldades em encontrar profissionais para montar uma resseguradora "local". Quem também procura executivos é o Lloyds of London, que terá escritório no Rio. O Lloyds é o maior mercado de seguros e resseguros do mundo.