Título: Clientes evitam tomar empréstimo de longo prazo
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2008, Finanças, p. C3

Os bancos se tornaram mais agressivos na concessão do crédito imobiliário, ampliando prazos e financiando uma parcela maior do valor dos imóveis. Mas os clientes continuam tão conservadores quanto antes, tomando empréstimos com o menor valor e prazo possíveis e livrando-se o quanto antes das dívidas. Para tentar reduzir essa aversão ao endividamento, a Associação Brasileira de das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) planeja lançar uma campanha de esclarecimento

"Muita gente simplesmente tem medo do crédito imobiliário, devido ao histórico problemático num passado não muito distante", diz o consultor da diretoria de governo da Caixa Econômica Federal, Teotônio Resende. "A idéia é mostrar que as coisas mudaram." Os juros altos também são uma explicação para a aversão a dívidas, afirma Resende, porém menos importante do que o medo do crédito imobiliário.

Num ambiente de maior competição, os bancos ampliaram os prazos dos financiamentos, estendendo-os a até 30 anos. Na Caixa, porém, que tem uma fatia de cerca de 65% do mercado de crédito, a extensão dos prazos não teve efeito importante. Na média, o prazo médio nos empréstimos com recursos da caderneta continua em 15 anos e, nos financiamentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), em 18 anos.

Em alguns casos, o prazo médio até caiu. Nos financiamentos até R$ 50 mil com recursos da caderneta, passou de 171 meses para 158 meses entre 2007 e 2008. No FGTS, houve avanço moderado nos prazos dos empréstimos para famílias com renda até cinco salários mínimos - passando de 192 meses para 234 meses entre 2003 e 2008.

Resende explica que, de forma geral, os clientes esticam os prazos apenas até a prestação caber dentro do orçamento. Essa seria uma explicação para, nos empréstimos para a população de menor renda, os prazos terem crescido um pouco mais.

O prazo fechado no contrato, porém, é apenas uma referencia. Na prática, em vez de números como 18 anos, os prazos efetivos são perto de 12 anos, porque grande número de clientes paga antecipadamente parte ou a totalidade da dívida. Um dado bastante ilustrativo: dos contratos assinados em 2003, 30,6% dos clientes já fizeram algum tipo de pré-pagamento.

Uma boa parte dos pagamentos é feita com os depósitos do FGTS, uma poupança compulsória com baixa remuneração ante os custos de um financiamento imobiliário. Mas o que realmente move as pessoas a tomarem crédito com prazo o mais curto possível e pagar o quanto antes é o medo de se afundarem na dívida - cultivado em anos de inflação e juros altos.

Na disputa pelos clientes, os bancos também passaram a financiar uma parcela maior dos imóveis. No caso do FGTS, por exemplo, a chamada cota máxima de financiamento fica entre 90% e 100% dos imóveis. Nos empréstimos com dinheiro da poupança, a regra geral é 80%, embora em algumas situações particulares possa chegar a 85%.

Na prática, porém, as cotas contratadas ficam entre 50% e 65% dos preços dos imóveis, no caso do FGTS, não muito diferente dos anos anteriores. Nos empréstimos com recursos da poupança, os percentuais permanecem entre 40% e 59%.

Há razões técnicas para a baixa cota de financiamento. No caso do FGTS, um bom número de financiamentos tem subsídios, que abatem um bom pedaço da dívida na contratação. Os trabalhadores também vêem na compra da casa própria uma rara oportunidade para usar os saldos no FGTS. Mas há também uma clara tendência de usar todas as economias e, com isso, assumir dividas menores.