Título: Bancos voltam-se para Santa Catarina
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2008, Finanças, p. C16

Paula Lima, diretora regional do HSBC: Estado é o menos explorado, mas é o de maior potencial no Sul Boa parte dos bancos está colocando Santa Catarina como mercado prioritário na região sul do país. Bradesco, HSBC e BicBanco tem planos de aumento do número de agências no Estado, mesmo movimento que foi anunciado recentemente pelo Banrisul, que passará de 13 para 23 agências, e pelo Sofisa, que pretende chegar ao estado pela Rede Matriz. Além do crescimento econômico catarinense - o PIB do estado aumentou 8,2% em 2007 para R$ 106 bilhões, segundo estimativas da secretaria estadual de planejamento -, os bancos se preparam para o novo cenário bancário regional.

O Banco do Brasil ficará mais forte, ganhará capilaridade com as 252 agências do Besc, após a conclusão do processo de incorporação, previsto para o segundo semestre deste ano. Além da necessidade de contra-atacar o avanço do BB, as instituições financeiras entendem que o processo de incorporação poderá também abrir oportunidades para aumento de sua participação.

Paula Lima, diretora regional do HSBC, diz que Santa Catarina é o Estado de menor participação do banco na região sul, mas é aquele que hoje apresenta a maior oportunidade para aumento do número de agências. Segundo ela, 50% das novas agências programadas pelo HSBC em 2008 para a região sul serão no Estado. "A intenção é crescer, no mínimo, 40% no resultado no Estado", diz.

Atualmente, o HSBC está com 50 agências em Santa Catarina. Segundo ela, será o maior investimento dos últimos quatro anos no Estado e contemplará aberturas no sul e no norte catarinense principalmente. O HSBC tem interesse em atuar mais forte tanto em pessoa física quanto em pessoa jurídica, vê oportunidades em aprofundar parcerias em áreas como o agronegócios.

Como motivadores desse apetite do banco estão principalmente os investimentos em infra-estrutura em execução no Estado, como a duplicação da BR-101 sul, ligando Santa Catarina ao Rio Grande do Sul, investimentos em portos - são dois novos portos - um já em operação e outro em construção na região norte de Santa Catarina - e construção de 70 novas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). "Certamente, isso atrairá empresas. Santa Catarina é a nova fronteira de crescimento no sul do país", diz Paula.

Além disso, também pesa a incorporação do Besc pelo BB. "A incorporação vai levar um tempo para ser digerida. Vai gerar oportunidades mais na prestação de serviços para pessoa física porque em algumas cidades vai haver duplicidade de agências", diz. Em alguns locais, ela acredita que o HSBC está mais bem colocado que o BB em agências, especialmente no atendimento de clientes de alta renda.

O Bradesco também pretende ampliar sua atuação no Estado. Vai abrir 32 agências (uma delas será Prime, para ) entre 2008 e 2009, que representam cerca de 10% do volume previsto de aberturas do banco neste período em todo o país. Segundo o diretor-executivo do banco, Odair Rebelato, é o maior plano do banco para o Estado desde a aquisição do banco Inco, nos anos 70. Hoje, o Bradesco possui 117 agências em Santa Catarina, é o terceiro maior no Estado, atrás somente do BB e do Besc. Nos últimos anos, o número de aberturas de agências em Santa Catarina era muito menor: de duas a três agências por ano.

Rebelato aponta como fatores principais do avanço o crescimento econômico catarinense e o fato de o banco já estar mais consolidado nos outros estados do sul, Rio Grande do Sul e Paraná. Para ele, "é evidente que o processo de incorporação vai proporcionar oportunidades. Às vezes, há sobreposição de agências em praças menores, onde duas agências de um mesmo banco não se sustentam, abrindo espaço para um outro operar", diz, apontando oportunidades, sobretudo, em município de médio porte. "A incorporação tem suas desvantagens. Às vezes, terá agência onde ele (BB) por livre escolha não teria colocado".

Embora os bancos em geral esperem fechamento de agências por conta da sobreposição, o BB e o Besc, no entanto, em coletiva para a imprensa em Santa Catarina por ocasião do início do processo de incorporação, ressaltaram que isso não ocorreria nos próximos cinco anos. No contrato de incorporação, o BB se comprometeu a "manter a marca Besc nos atuais pontos de atendimento, bem como o atendimento". Há fontes do BB que interpretaram, em recente matéria do Valor, que o contrato prevê a manutenção do atendimento, podendo haver redimensionamento de agências, ou este atendimento ser feito por correspondente bancário ou terminais eletrônicos.

O foco do crescimento do Bradesco em Santa Catarina será basicamente no atendimento à pessoa física, não haverá mudanças na rede de atendimento de pessoa jurídica, que hoje conta com seis agências exclusivas. Além das 32 agências Rebelato espera até o fim de 2009 estar em todos os 293 municípios do Estado por meio do Banco Postal, operação que o Bradesco mantém nas agências dos Correios. Hoje, há 254 agências do Banco Postal. Com as novas agências, Rebelato estima que o banco poderá passar de 1,5 milhão de correntistas no Estado para 1,6 milhão.

O Unibanco apenas informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que também tem planos de crescimento em Santa Catarina. A intenção é nos próximos dois anos uma expansão de 15% na sua rede. Segundo o Banco Central, de setembro de 2007, o Unibanco tinha 22 agências no Estado, número que se mantém desde 2005.

Bancos de menor porte e especializados no atendimento de pequenas e médias empresas (middle market) como o BicBanco também vão aproveitar o momento. O BicBanco chegará à capital do Estado, que será uma das 10 novas aberturas previstas pelo banco em todo o país em 2008. O BicBanco atuava em Santa Catarina apenas por meio de uma agência em Blumenau e nos próximos dias pretende inaugurar a unidade de Florianópolis. Edênio Nobre, diretor-executivo do BicBanco, afirma que há 15 anos o banco está presente em Blumenau e decidiu ir neste momento para a capital para atender não só a demanda de Florianópolis como de outras áreas do sul do Estado como Criciúma, importante pólo de indústrias cerâmicas. Depois de Florianópolis, há planos para Joinville e Chapecó.

Nobre explica que a agência na capital terá o papel de não só conseguir novos clientes para empréstimos, mas também para conquistar "doadores de recursos" como fundos de pensão, que antes eram captados pelas filiais do banco em Curitiba e em São Paulo. O avanço do BicBanco em Santa Catarina tem relação com o fluxo de empresas de médio porte que transferiram sua sede de São Paulo para Santa Catarina, por conta da busca dos empresários por melhor qualidade de vida e isso transferiu o centro de decisões dessas empresas para Florianópolis, além disso pesou o crescimento da economia e a incorporação. Na sua avaliação, pessoas jurídicas que hoje possuem nos dois bancos limites pré-aprovados poderão procurar alternativas de diversificação.