Título: CNI prevê alta de 7,5% no consumo
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Fonte: Valor Econômico, 01/04/2008, Brasil, p. A4

O consumo das famílias, estimulado pelo aumento do emprego e pelos programas oficiais de transferência de renda, terá peso maior no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Essa é uma das principais mudanças nas perspectivas econômicas do país para 2008, divulgadas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os economistas da entidade informaram que, segundo suas projeções, as famílias deverão consumir 7,5% mais que no ano passado. Em dezembro, a previsão era de elevação de 6,2%.

Nas perspectivas econômicas da CNI, o aumento da renda dos mais pobres será mais acelerado que nos demais estratos sociais, porque a propensão ao consumo nessa faixa de renda é mais elevado.

O economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco, ressaltou a importância de outras quatro revisões nas projeções para a economia em 2008. Com relação ao que foi calculado em dezembro, a entidade identificou mais inflação, maior déficit em conta corrente, mais importações e exportações e mais emprego.

A previsão de déficit em conta corrente para este ano, que era de US$ 6 bilhões em dezembro, saltou para US$ 15 bilhões, mas a CNI alega que o problema maior é a manutenção de déficits expressivos no longo prazo, o que pode comprometer o efeito positivo das reservas internacionais.

A variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) será, segundo a CNI, de 4,7% em 2008. A variação é maior que a esperada para o centro da meta de inflação (4,5%) e superior ao que a entidade calculou no fim do ano passado (4,1%). Mas Castelo Branco procurou diminuir a importância dessa alteração, dizendo que não é preciso elevar os juros. Para ele, o ajuste entre oferta e demanda já está sendo feito pelo aumento das importações. "O uso da capacidade instalada da indústria está estável desde setembro, em meio ao aumento da oferta. Isso revela que o investimento do setor está amadurecendo", ponderou.

A saída que muitos esperam - um aumento dos juros pelo Banco Central - poderá, na interpretação do economista da CNI, deprimir investimentos e aumentar ainda mais o descompasso entre oferta e demanda. "Não podemos correr o risco de ver interrompido o início do ciclo de crescimento sustentado", advertiu.

Se o governo vem mostrando preocupação com o descasamento entre oferta e demanda, Castelo Branco alertou que o problema tem de ser analisado considerando o papel do governo. Na sua visão, aumento de demanda não depende apenas do setor privado e do consumo das famílias. Ele advertiu que não dá para aumentar todos os gastos ao mesmo tempo. Portanto, defendeu a retomada da discussão sobre o limite do crescimento da folha de pagamento dos funcionários públicos. A proposta integrou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas foi esquecida no Congresso.

Além das revisões para cima no consumo das famílias, no déficit em conta corrente e na inflação, a CNI também reconheceu que o país vai elevar suas importações em 2008. Em dezembro, a projeção era de US$ 150 bilhões em compras de produtos estrangeiros, mas saltou para US$ 165 bilhões. No lado das exportações, a entidade também identificou crescimento de US$ 175 bilhões (dezembro) para US$ 190 bilhões. O saldo comercial permanece em US$ 25 bilhões.

O Informe Conjuntural da CNI também revelou que foi mantida a previsão de 5% para o crescimentos do PIB e do produto industrial em 2008. O setor terá de atender ao maior consumo das famílias e, portanto, recompor estoques. Uma entre quatro indústrias iniciou 2008 com estoques abaixo do planejado.

De acordo com a CNI, o emprego formal continuará a crescer este ano. A taxa média de desemprego deverá ficar em 8,4%, 0,6 ponto percentual abaixo dos 9% calculados em dezembro do ano passado. Em 2007, o desemprego foi de 9,3% da População Economicamente Ativa (PEA).