Título: Partidos de olho na janela
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 12/02/2011, Política, p. 8

Vista com um certo receio por integrantes do PSDB, do DEM e do PPS, a ¿janela¿ para mudança de partido sem punições começa a ser encarada como uma boa alternativa por legendas que têm perspectivas de crescimento no caso de aprovação da proposta. No PMDB e no PSB, por exemplo, o tema faz parte das discussões internas em torno da reforma política a ser votada neste ano. E nos dois casos, o mecanismo tem endereço certo: facilitar a vida do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

Kassab e o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, jantaram com o presidente do PSB, Eduardo Campos, na noite de quarta-feira, em São Paulo. Ambos disseram ao comandante socialista para não tomar nenhuma atitude referente à troca de legenda antes de 15 de março, data da convenção do Democratas. Mas deixaram claro que uma janela para mudança de partido facilitaria a decisão.

Pela regra atual, tanto Kassab quanto Colombo podem ser processados pelo DEM caso mudem de partido, e obrigados a devolver o mandato eletivo que conquistaram nas urnas. Pelo entendimento da Justiça Eleitoral ¿ confirmado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal ¿, os mandatos pertencem aos partidos. No caso da reforma política, um período de acomodação poderia vir sem problemas.

Outros políticos também o-lham com esperança para a abertura desse portal de acomodação. No Partido da República, o senador Blairo Maggi, ex-governador de Mato Grosso, é um exemplo. Ele ficou assustado com a postura dos comandantes do PR, em especial do ex-presidente Valdemar Costa Neto (SP), que ameaça expulsar o deputado Sandro Mabel (PR-GO) da legenda por ele ter concorrido à Presidência da Câmara. Na lógica parlamentar, se é um direito de cada deputado concorrer à Presidência da Casa, o interessado não poderia ser ameaçado de expulsão.

No mesmo PR, Anthony Garotinho, por exemplo, tem dito a amigos que só integra a legenda porque o governador do Rio, Sérgio Cabral, fechou as portas de todos os demais partidos. Garotinho pretendia ser candidato a governador do Rio contra Cabral. Não o foi porque, além dos processos que correm na Justiça por propaganda eleitoral antecipada, Cabral fez questão de atuar nos bastidores para fechar todos os grandes partidos às pretensões de Garotinho.

PT teme Na base governista, um dos partidos que têm dúvidas em relação à janela é o PT. Embora o líder no Senado, Humberto Costa, tenha declarado que seria razoável um período de acomodação política dentro de uma reforma política mais ampla, seu partido tem resistências. Isso porque uma migração tende a favorecer só outros siglas e não o PT.

Os petistas, especialmente os paulistas, olham com certa desconfiança para a janela porque não veem com bons olhos o ingresso de Kassab no PSB. Afinal, seria um fortalecimento dos socialistas num estado em que o PT sonha governar há muito tempo. Ciente disso, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), avisa que a janela só entrará em pauta se for dentro de uma ampla reforma política.