Título: Unibanco cria 'investment bank'
Autor: Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 01/04/2008, Finanças, p. C1

O Unibanco vai criar um banco de investimentos e tentar abocanhar uma fatia mais expressiva de um segmento de negócios bancários que cresceu muito nos últimos anos no país, principalmente impulsionado pela febre das ofertas iniciais de ações. A nova instituição terá um capital de R$ 400 milhões. Para ocupar o posto de principal executivo do novo banco, que foi anunciado internamente na noite de ontem, o banqueiro Pedro Moreira Salles convidou Eleazar de Carvalho Filho, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e também ex-executivo dos bancos de investimento Garantia e UBS.

Além dele, que era sócio da gestora de recursos carioca Iposeira desde que deixou o BNDES, Salles contratou Eduardo Gentil para dividir o comando do Unibanco Banco de Investimentos. Gentil era um executivo sênior do Credit Suisse e já presidiu a Goldman Sachs no país e também a Visa, além de ter sido diretor do BNDES na gestão de Carvalho Filho. Gentil tocará a área de originação de negócios e parte da estruturação. Carvalho Filho ficará com parte da estruturação e a distribuição.

Pode-se dizer que o Unibanco chega atrasado em relação aos seus grandes concorrentes nacionais. Itaú e Bradesco constituíram suas unidades independentes de banco de investimentos há mais tempo. O Itaú comprou o BBA e criou o Itaú BBA em novembro de 2002. O perfil de banco comercial do BBA ainda predominou e, em março de 2005, o Itaú BBA pagou um bom dinheiro para tirar Jean-Marc Etlin e outros dois executivos do UBS. A partir daí, só cresceu na atividade de banco de investimento, tornando-se um dos líderes em ofertas públicas de ações. O Bradesco demorou um pouco mais, mas em junho de 2006 contratou Bernardo Parnes para presidir o seu banco de investimentos.

Moreira Salles concorda que seu banco poderia ter se beneficiado mais das oportunidades do mercado de ações, principalmente, se a estrutura que surge agora já existisse no ano passado, quando foram feitos mais de 50 IPOs (ofertas iniciais). O Unibanco ficou em 5º lugar do ranking da Thomson do ano passado. "Percebemos que precisávamos pensar essa área de maneira diferente e agora temos a ambição de voltar a ter uma posição muito destacada", diz Salles.

Para atrair e reter talentos que, afinal, é o que conta em um banco de investimentos, o banqueiro criou um diferencial em relação à concorrência nacional e estrangeira. "Os executivos serão acionistas da nova instituição", diz. Na soma, a nata do banco poderá chegar a ter 20% do capital do Unibanco Banco de Investimentos.

"O banco vai financiar os executivos para aquisição de ações, que serão pagas ao longo do tempo, com a geração de resultados", explica Eleazar de Carvalho Filho. Os bons e velhos bônus também serão pagos. O Unibanco replicará, numa porção minoritária do capital, o modelo de 'partnership' (sociedade), que foi criado pelo Goldman Sachs e, no Brasil, explica boa parte do sucesso do Garantia e do Pactual - tendo desaparecido com a venda de ambos.

Demosthenes Madureira de Pinho Neto, vice-presidente do Unibanco e responsável pelo banco de atacado e pela Unibanco Asset Management, vai "ceder" ao novo banco cerca de 100 pessoas, juntamente com a área de distribuição, a corretora de Nova York e as área de análise (research), de subscrição de ações e renda fixa e de fusões e aquisições. A idéia é aproveitar os talentos do banco e fazer contratações pontuais. Na avaliação de Pinho Neto, o Unibanco tem "vocação histórica" para banco de investimentos, o que significa dizer que não estará começando do zero como seus concorrentes Itaú e Bradesco. O Unibanco nasceu do Banco de Investimento Brasil, o BIB, e, até 2001, 70% dos seus ativos estavam no banco de atacado. Foi nos últimos anos que o varejo predominou no grupo.

As conversas para a criação do novo banco começaram meses atrás entre Moreira Salles e Carvalho Filho. Tudo porque a Unibanco Asset Management negociava uma parceria com a Iposeira. As conversas resultaram no banco, mas a parceria também vingou. A UAM comprará 30% da Iposeira e passará a distribuir seus fundos. Carvalho Filho deixa o capital da gestora, mas fica em seu conselho.

A respeito do momento escolhido para o lançamento do novo banco, que pega o mercado de IPOs praticamente parado, Moreira Salles diz que "o projeto é de longo prazo e não circunstancial".