Título: Faxina policial no Rio
Autor: Santana, Ana Elisa ; Álvares, Débora
Fonte: Correio Braziliense, 12/02/2011, Brasil, p. 10

Depois da prisão de 27 policiais e mais oito pessoas ¿ ex-agentes e informantes ¿ acusados de envolvimento em esquemas ilícitos no Rio de Janeiro, durante a Operação Guilhotina, deflagrada ontem pela Polícia Federal, o secretário de Segurança Pública do estado, José Mariano Beltrame, admitiu o que não havia como esconder: a corrupção no meio é uma realidade latente. Ressaltou, no entanto, que a ação não arranhou a política de segurança, e sim reforçou os rumos de mudança (leia entrevista na página 11). As investigações iniciadas em 2009 culminaram em 45 mandados de prisão e 48 de busca e apreensão. O alto escalão da Polícia Civil foi alvo direto da ação. Horas após o início, a prefeitura do Rio anunciou a exoneração do delegado Carlos Oliveira, que se entregou à polícia no fim da tarde. Acredita-se que ele mantinha relação direta com traficantes.

Além das prisões, houve buscas na 17ª Delegacia de Polícia (São Cristóvão) e na 22ª DP (Penha). Bingos, residências e estabelecimentos comerciais também foram alvo da operação. Na Rua Araguari, em Ramos, duas casas e uma academia foram revistadas. Os agentes buscavam corpos na região, dominada pela milícia da qual fazem parte 21 pessoas que tiveram a prisão preventiva decretada.

O chefe Polícia Civil no Rio de Janeiro, Allan Turnowski, foi chamado para prestar esclarecimentos sobre a rotina da corporação e negou qualquer envolvimento com os atos ilícitos investigados pela Operação Guilhotina. Beltrame declarou total confiança no chefe da PCRJ. ¿Não vou cometer juízo de valor. Vamos analisar e tomar decisão no momento oportuno¿, disse, no fim da manhã.

As investigações começaram em 2009, após o vazamento de informações sobre uma ação na Rocinha de busca ao traficante Roupinol, comparsa do procurado Nem. A operação foi uma parceria entre policiais do estado e a Polícia Federal de Macaé e desencadeou duas frentes de investigação que culminariam na Operação Guilhotina.

Segundo a PF, as quadrilhas pediam até R$ 50 mil de propina. Pelo valor, ofereciam em troca segurança a traficantes, a milicianos e à máfia dos caça-níqueis, além de vender informações sobre operações, armas, munição e drogas apreendidas, o chamado espólio de guerra.

A Associação de Delegados do Rio de Janeiro (Adepol-RJ) criticou a forma como a ação foi realizada. A revista de delegacias, ¿mobilização excessiva de homens¿ e ¿prisões ilegais de policiais¿ mostram ¿abuso de poder da secretaria e podem até mesmo atrapalhar nas investigações¿, segundo Wladimir Reale, presidente da Adepol. ¿Não entramos no mérito das acusações. Os envolvidos, se culpados, devem responder pelos atos.¿

O procurador-geral de Justiça do Rio, Cláudio Soares Lopes, discorda da associação e afirma que a operação foi um sucesso. ¿A instituição sai fortalecida porque preserva e distingue os bons policiais dos ruins¿, destacou mais cedo.

PERSONAGEM DA NOTÍCIA O senhor das armas

Carlos Antônio Luís de Oliveira, delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro, iniciou sua vida na segurança pública do Rio em 2001, quando assumiu a Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae). A convite do prefeito Eduardo Paes, tomou posse como chefe da Subsecretaria Operacional da Secretaria Especial da Ordem Pública (Seop), onde ficou entre janeiro e abril de 2009. Após o período, o delegado foi titular da Delegacia de Repressão às Armas e Explosivos (Drae) ¿ órgão responsável pela apreensão de material bélico de quadrilhas de traficantes. Oliveira reassumiu o cargo de subsecretário há pouco mais de um mês.

Ele também é considerado um dos maiores especialistas em armas da polícia do Rio. Já ministrouu palestras e cursos promovidos pela Secretaria Estadual de Segurança, pelo Ministério da Justiça e, também, pela Organização das Nações Unidas. (DA e AES)