Título: País precisa evitar otimismo exagerado, diz Lula
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2008, Brasil, p. A4

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita para lançar o PAC no Rio Grande do Sul: "Projeto do Brasil não está pronto, tem muita coisa a ser feita" No mesmo dia em que lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Rio Grande do Sul como o "primeiro grande programa de investimentos em infra-estrutura neste país desde 1975" - ano de criação do 2º Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), no governo Ernesto Geisel -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil não pode ficar "exagerando no otimismo", em função dos riscos de contágio da crise da economia dos EUA.

Às vésperas da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que pode elevar a taxa básica de juros, o presidente voltou a fazer referência ao risco de descompasso entre o aumento do consumo e da produção. "Temos que ter um controle constante para não permitir que a inflação volte, porque quando a inflação volta só ganham os especuladores, e quem perde muito são os trabalhadores assalariados."

Na terça-feira, em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Lula já havia adotado um discurso mais cauteloso em relação à capacidade do país de sair ileso da desaceleração americana. Ontem, na cidade de Rio Grande, ele afirmou que o momento requer "muita serenidade" para evitar a contaminação da economia brasileira. "O projeto do Brasil não está pronto ainda. Tem muita coisa a ser feita. É preciso muito investimento."

Lula negou que esteja tirando proveito político do PAC. Lembrou que a eleição presidencial é só em 2010 e que ele não está em campanha, porque "a Constituição determina apenas dois mandatos (para presidente)". Em Porto Alegre, ele chegou a dizer que estava "pisando em ovos", porque quase todos os candidatos à prefeitura neste ano são de partidos que fazem parte da base do governo no Congresso e ele não poderia "apoiar um e deixar o outro zangado".

Na solenidade na capital gaúcha o presidente fez um desagravo à governadora Yeda Crusius (PSDB), que estava no palanque reservado às autoridades e foi vaiada diversas vezes. "Eu ainda tenho que visitar muitos Estados para lançar o PAC e se a gente transformar o programa em uma manifestação político-partidária, quando é um ato institucional, vou ter muitas dificuldades em completar as viagens que tenho de fazer."

De acordo com Lula, se os governo federal, estaduais e municipais não trabalharem juntos, superando as "diferenças políticas", os investimentos não serão realizados. " O dia em que a governadora e os prefeitos não quiserem fazer acordo comigo, posso ter o dinheiro, mas não poderei aplicar, porque não sou eu quem vai executar." Na solenidade estavam Dilma Rousseff (Casa Civil), Tarso Genro (Justiça), Nelson Jobim (Defesa), Márcio Fortes (Cidades) e Fernando Haddad (Educação), além de prefeitos, deputados e senadores.

Segundo Dilma, o PAC prevê R$ 16 bilhões para o Rio Grande do Sul, incluindo projetos de infra-estrutura, saneamento, habitação e urbanização. Ontem, em Porto Alegre, foram assinadas ordens de serviço para obras em 15 cidades, para o lançamento do programa de bolsa-formação para policiais e para a doação de equipamentos destinados à montagem de telecentros nos municípios gaúchos.

Pela manhã a comitiva visitou a construção da plataforma P-53 da Petrobras em Rio Grande. O grupo conheceu ainda as obras do dique-seco, que ficará pronto em fevereiro de 2009 e será destinado à construção, reforma e reparação de plataformas de exploração e produção de petróleo, com investimento de R$ 439 milhões. O casco da P-55 será construído entre 2009 e 2011, disse o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli.

Gabrielli também anunciou a instalação, no dique-seco, da primeira linha de montagem em série de cascos para plataformas oceânicas. O investimento dependerá do número de unidades que serão necessárias para atender aos programas de exploração e produção da Petrobras, mas irá garantir a operação permanente das instalações, disse o presidente da estatal. Segundo ele, os cascos serão construídos mediante licitação e custam em média US$ 400 milhões cada.

Segundo o diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, o primeiro casco deve demorar 36 meses para ser construído, mas a partir daí, o prazo de construção deve cair para oito meses. Ele explicou que hoje esses navios (que depois recebem os módulos, ou topsides) são importados principalmente de Cingapura, a um custo de US$ 300 milhões a US$ 350 milhões, e a expectativa de Duque é que o preço comece a baixar. (Colaborou Claudia Schuffner, do Rio