Título: Alta de apenas 6% na importação de insumos surpree
Autor: Landim , Raquel ; Viera , André
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2008, Brasil, p. A6

Eduardo Daher, da Anda: greve dos auditores está afetando as importações de insumos para fertilizantes O crescimento das importações de matérias-primas pela indústria - que representam metade do total das compras externas do país - sofreu uma freada brusca e atípica em março. Depois de subir 52,5% em janeiro e 54% em fevereiro na comparação com igual período do ano anterior, as importações de bens intermediários aumentaram apenas 6,5% no mês passado, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento. Em 2007 ante 2006, as empresas elevaram em 30% as compras de insumos fora do país.

O dado surpreendeu os analistas de comércio exterior, que levantam algumas hipóteses: impacto da greve dos auditores da Receita Federal, influência de setores que anteciparam importações e até um equívoco na compilação dos números. O governo ainda não sabe o que ocorreu e decidiu revisar os dados para verificar as razões desse ponto fora da curva, segundo o Ministério do Desenvolvimento.

Graças ao seu elevado peso na pauta de importação, um ritmo mais forte de compras de insumos poderia significar saldo ainda menor para a balança comercial brasileira, que foi de apenas US$ 3,3 bilhão no período de janeiro a março, queda de 67% em relação aos primeiros três meses de 2007. As importações brasileiras cresceram 33% no primeiro trimestre, mas, no acumulado até a segunda semana de março, estavam subindo 48,5%.

A greve dos auditores da Receita Federal começou no dia 18 de junho, início da terceira semana de março. De acordo com informações da Receita, divulgadas pelo Ministério do Desenvolvimento, o impacto da greve é pequeno. No porto de Santos, por exemplo, mais de 95% das declarações de importação recebidas em março foram liberadas.

O relato dos importadores é diferente. Ricardo Martins, diretor de comércio exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), diz que 75 mil contêineres deixaram de ser desembaraçados no porto de Santos. Na sexta-feira da semana passada, a entidade conseguiu uma liminar para liberar as mercadorias, que já teria sido utilizada por 750 empresas paulistas.

Segundo informações recolhidas pelo Ciesp, o porto de Santos bloqueou a saída de mercadorias até pelo canal verde, cuja entrada no país independe do trabalho dos auditores. No aeroporto de Guarulhos, só produtos perecíveis são liberados, enquanto em Viracopos os fiscais realizam uma operação-padrão.

O Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Unafisco) nega a informação de que as mercadorias do canal verde não estão sendo liberadas. A entidade diz que chega a 1.500 o número de caminhões parados nas fronteiras de Uruguaiana e Foz do Iguaçu. É uma queda de braço entre auditores e o governo. Se ficar evidente que a greve prejudica a balança e o crescimento, as reivindicações dos auditores ganharam força. Segundo a Unafisco, R$ 60 milhões em mercadorias estão retidas em Manaus. A entidade não soube informar quanto isso representa da movimentação total.

"Os níveis de estoques das empresas estão críticos, por conta do forte crescimento da economia", diz Wilson Périco, presidente do Sindicato da Indústria Elétrica e Eletrônica de Manaus (Sinaees). Ele relata que alguns fabricantes de eletroeletrônicos, celulares e bicicletas já estariam com as linhas de produção parcialmente paralisadas por falta de peças. Nokia e Panasonic informam que ainda não foram prejudicadas, mas que isso pode ocorrer se a greve continuar.

De acordo com a Secex, os setores químico, farmacêutico e autopeças foram os que mais desaceleraram as importações de insumos em março. As importações de insumos químicos e farmacêuticos caíram 87% no mês passado em relação a março de 2006, após subir 30% em fevereiro. Já as importações de acessórios de equipamentos de transporte recuaram 78%.

Os números não batem com o relato das empresas, que descartam sinais de desaquecimento a produção ou excesso de estoques. A alemã Lanxess, fabricante química e de plásticos e grande importadora de matérias-primas, não viu mudanças no ritmo de importações em março. "As compras continuaram aceleradas", disse Marcelo Lacerda, presidente da Lanxess no Brasil. Dados preliminares da companhia indicaram que as importações no mês passado foram 123% maiores na comparação com igual mês de 2007. A Lanxess classifica como "estranho" o dado estatístico. "Não parece fazer sentido esse dado de queda nas importações em março. A greve da Receita Federal também é muito recente para criar impacto sobre as compras externas", disse Lacerda.

A Rhodia, fabricante francesa de produtos químicos, também informou que não houve qualquer mudança de comportamento nas importações em março, que seguem em ritmo forte. A Copesul, segunda maior central petroquímica do país, parou para a manutenção programada em março, o que reduziu a importação de nafta para um terço do usual. O impacto, contudo, é de US$ 90 milhões.

Na semana passada, a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) realizou uma reunião com os associados, e ninguém presente no encontro viu queda no ritmo das importações em março. Embora os dados sobre o mês passado ainda não tivessem sido tabulados pela entidade, a percepção era de que o comportamento seguia o mesmo padrão dos meses anteriores. "O volume de compras externas está excepcional", destacou um dos integrantes da entidade. A indústria farmacêutica tampouco detectou mudanças. Um executivo ligado à uma indústria de genéricos também vê normalidade na importação de medicamentos e matérias-primas.

No setor de adubos e fertilizantes, as importações de insumos sofreram queda brusca depois do início da greve dos auditores da Receita Federal. A média diária de compras externas, que chegou a US$ 26 milhões na primeira semana e US$ 16 milhões na segunda, recuou para US$ 3,8 milhões na terceira e US$ 9,2 milhões na quarta semana. Segundo Eduardo Daher, diretor-executivo da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), há problemas para desembaraços de produtos nos portos de Santos e Paranaguá. Ele também explica que os produtores anteciparam as compras de fertilizantes em janeiro e fevereiro e agora podem ter colocado o pé no freio. O aumento do preço da matéria-prima pode ser outro motivo de desestímulo das importações. (colaborou Chico Santos, do Rio)