Título: Mercosul e UE devem voltar a negociar no segundo semestre
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2008, Brasil, p. A6

Mercosul e União Européia devem retomar as negociações para o acordo de livre comércio entre os dois blocos no segundo semestre deste ano, previu o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

O avanço das negociações da rodada de liberalização comercial na Organização Mundial de Comércio (OMC), a chamada Rodada Doha, facilita a decisão das autoridades européias, argumenta Amorim.

Os empresários brasileiros já sentiram uma mudança de ânimo nos negociadores europeus e, apostando também na retomada, já iniciaram contatos com o setor privado europeu.

Em qualquer hipótese as negociações poderão avançar com a União Européia, afirmou Amorim. Se fracassarem as negociações para um acordo em torno das modalidades de abertura comercial, em discussão pelos diplomatas em Genebra, a rodada atrasará seu final em pelo menos dois anos e a Europa terá de buscar alternativas de acordos comerciais. Se houver um acordo preliminar sobre as bases da negociação na OMC, os europeus já poderão avaliar o tamanho das concessões adicionais que poderão fazer nas discussões com o Mercosul, avalia o ministro.

Os temores de recessão nos Estados Unidos e o risco de desdobramentos negativos para a economia mundial também funcionam como um estímulo a acordos para ampliar mercados entre parceiros globais, como a União Européia e o Mercosul, acrescenta a especialista Soraya Rosar, gerente-executiva da Unidade de Negociações Internacionais da Coalizão Empresarial. Ela relata sinais de mudança de atitude por parte dos negociadores europeus, que, no segundo semestre do ano passado, pareciam voltados às discussões de abertura comercial com países asiáticos e desinteressados do Mercosul.

"Tínhamos saído do foco dos europeus, mas isso mudou", afirma Rosar, que disse ter se surpreendido pelo interesse demonstrado pelo chefe dos negociadores europeus, Karl Falkenberg, em fevereiro, ao participar de um seminário sobre as relações européias com o Mercosul.

Também no início do ano, os técnicos encarregados de negociar os acordos de livre comércio da União Européia com os países andinos fizeram questão de fazer uma escala em Brasília, aparentemente para sondar as possibilidades de retomada das negociações com o Mercosul.

O setor têxtil já se movimenta para buscar, com os empresários argentinos do mesmo segmento, uma posição conjunta para levar aos europeus e já recebeu ligações do setor privado uruguaio interessado em participar das conversas. "Temos interesses em avançar no acordo e os contatos se intensificaram nos últimos dias", comenta o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel.

Representantes da União Européia têm procurado os empresários, em conversas exploratórias sobre as condições de retomada das negociações de livre comércio, segundo Pimentel.

Um dos problemas para a volta à mesa de negociações é a tendência de recrudescimento das pressões protecionistas na Argentina, que se somam às reclamações dos europeus contra o sistema de tributação de importações do Mercosul, que passa a cobrar tarifas duplamente quando uma mercadoria estrangeira passa de um país ao outro dentro do bloco.

As dificuldades permanecem, mas, no caso da Argentina, há espaço para trabalhar, garante Soraya Rosar. A Coalizão Empresarial, que reúne exportadores brasileiros interessados nas negociações comerciais, tem reuniões com os empresários argentinos, nos próximos dias, para discutir o assunto.

Os empresários brasileiros farão uma reunião com os europeus em maio, no Peru, durante a reunião de cúpula União Européia-Mercosul, entre os dias 14 e 16, em Lima.

O ministro Celso Amorim disse não acreditar, porém, que seja possível avançar em discussões nesse encontro, que se realiza poucos dias antes da divulgação, em Genebra, das propostas dos coordenadores das negociações aos ministros dos países da Organização Mundial do Comércio, para a base do acordo da Rodada Doha. Em maio estará muito próximo, mas será possível retomar as conversas no segundo semestre, que, na Europa, começa em setembro, adiantou o ministro das Relações Exteriores.