Título: Corrupção geral
Autor: Álvares, Débora ; Santana, Ana Elisa
Fonte: Correio Braziliense, 12/02/2011, Brasil, p. 11

No dia em que a Secretaria de Segurança Pública deflagrou a Operação Guilhotina, cumprindo mais de 90 mandados de prisão, busca e apreensão, o Correio conversou com o secretário José Mariano Beltrame não apenas sobre a ação, mas especialmente em relação ao problema crônico da corrupção entre policiais da cidade. Beltrame admite que a exposição causada por operações dessa amplitude é ruim para a imagem da polícia do Rio, mas defende-se:

¿A corrupção está em vários setores do serviço público brasileiro¿. O secretário disse ainda que a ocupação do Complexo do Alemão seria mais bem feita sem a presença dos corruptos, e deu a entender que a participação deles na operação era inevitável: ¿Fizemos o grande trabalho já com a garantia de que essas pessoas, aqui na frente, seriam presas¿.

ENTREVISTA-JOSÉ MARIANO BELTRAME

A expectativa é por mais prisões nos próximos dias? Para mim, a investigação começou hoje. A expectativa é que cheguem mais pessoas envolvidas e esse material todo irá para a CGU (Controladoria-Geral da União). Depois das denúncias feitas, vamos poder trabalhar lentamente em cima de cada uma.

A Associação de Delegados do Rio de Janeiro classifica a operação como espetáculo e afirma que pode prejudicar a imagem da corporação. A Associação dos Delegados está no papel dela. Nós, a Polícia Federal e o Ministério Público estamos no nosso. Estamos fazendo as coisas e apresentando provas, não estamos no ¿diz que me diz¿. O Judiciário não decide as coisas em cima de bravata, mas em cima de materialidade, e isso é que se obteve durante quase um ano e meio trabalhando.

O senhor não considera exagero envolver uma quantidade de pessoas que chega perto do contingente usado para a tomada do Complexo do Alemão, por exemplo? Imagine entrar em uma delegacia para fazer uma busca com quatro policiais. Vai levar um dia. A gente vai com uma massa, claro, por causa da segurança, mas também porque tem que se fazer uma busca em toda a residência. Entrar só com uma ou duas pessoas demanda muito tempo, uma exposição da própria residência.

Para quem vê de fora, a corrupção policial no Rio parece um problema eterno. Como é a visão interna? Há uma solução? A corrupção está em vários setores do serviço público brasileiro, isso não é prerrogativa nossa. A solução é uma caminhada. Nunca foi feito um trabalho dessa natureza, e agora está sendo feito. Está bom? Não, mas está muito melhor do que já esteve e a gente tem estrutura para avançar. Não posso garantir que vai terminar. A gente revolveu se expor. Não é bonito, mas eu sei que na frente vamos ganhar. Instituição nenhuma que quer mudar vai se transformar sem cortar a própria carne.

As denúncias de corrupção na polícia podem afetar a imagem da segurança no Rio? Nós temos índices consistentes e a avaliação positiva da população. Mesmo sendo uma situação desagradável, ela mostra que estamos buscando uma solução. O pior seria nos escondermos.

Há planos de intensificar as ações para garantir o bom andamento da Copa do Mundo de 2014, além da Olímpiada, em 2016? Nós não estamos fazendo um trabalho exclusivo para garantir Jogos Olímpicos, mas para a população. Estamos melhorando a cidade e o estado. Dentro desse contexto está o combate à corrupção. Tenho certeza de que em 2014 vamos estar muito melhor do que agora.

O relações públicas da Polícia Militar, coronel Lima Castro, disse que a operação no Morro do Alemão poderia ter sido melhor se não fosse a corrupção dos policiais¿ Teríamos um resultado mais bonito, sem dúvida. Mas primeiro fizemos o grande trabalho que estava planejado para lá, já com a garantia de que essas pessoas, aqui na frente, seriam presas. Esse trabalho a gente fechou bem, mas o ideal é que nada disso tivesse acontecido.