Título: Operações no mercado de créditos vencidos cresceram 42% em 2007
Autor: Carvalho , Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2008, Finanças, p. C2

Salvatore Milanese, sócio da KPMG: interesse em limpar ativos O mercado de compra e venda de créditos vencidos ("non performing loans", ou NPL) deu um salto no Brasil. Os negócios com créditos inadimplentes giraram R$ 17 bilhões no ano passado, 42% a mais do que os R$ 12 bilhões movimentados em 2006, e bem acima dos R$ 5 bilhões de 2005. Apenas no primeiro trimestre, mais R$ 4 bilhões foram negociados.

O levantamento baseado no valor de face das carteiras negociadas foi feito pela KPMG Brasil que calcula ter participado de 64% do volume de negócios realizados no ano passado e de 43% em 2006, informou Salvatore Milanese, sócio responsável pela reestruturação de empresas.

Segundo Milanese, a crise internacional de liquidez não tirou o interesse dos compradores de carteiras de créditos vencidos, que são, principalmente, investidores internacionais, hedge funds associados a parceiros locais e agências de cobrança nacionais e internacionais. Eles compram as carteiras com deságio na expectativa de recuperar parte dos recursos com uma cobrança ativa. O deságio varia conforme o tipo e tempo de crédito e a expectativa de recuperá-lo. "Esse é agora um business internacional. Os investidores compram créditos vencidos no Brasil, criam veículos que os empacotam, emitem títulos com lastro nos créditos e buscam arbitrar ganhos com carteiras de outros países", disse Milanese, ilustrando uma das estratégias realizadas. A KPMG vai realizar seminário sobre o assunto dia 10, em São Paulo.

O potencial de negócios é grande uma vez que os bancos contabilizavam em fevereiro um volume de R$ 78 bilhões em créditos vencidos ou em atraso de 60 a 360 dias. E a carteira de crédito total do sistema financeiro atingiu R$ 957 bilhões.

Do lado dos vendedores, o interesse é limpar as carteiras e recuperar ao menos parte das perdas. Milanese explicou que são normalmente vendidos créditos já baixados como perda. Não há, portanto, impacto nas provisões e muitas vezes também não há impacto fiscal. No Brasil, o Banco Central (BC) e a Receita Federal estabelecem regras diferentes para a baixa contábil e baixa fiscal, respectivamente, de ativos de crédito. Mesmo no caso da baixa contábil, as regras variam conforme o tipo de empréstimo. Créditos inadimplentes abaixo de R$ 5 mil podem ser baixados em 180 dias, por exemplo. Já os de maior valor, com garantia, o prazo depende do tipo de garantia e do cumprimento de tentativas de recuperação.

Mas é inegável a economia de custos dos bancos que vendem essas carteiras praticamente perdidas uma vez que a manutenção desse tipo de ativo os obriga a ter equipe para gerenciá-lo, a manter registros e fazer a cobrança.

Outro estímulo à venda de carteiras é a aproximação do prazo de adesão às normas internacionais de contabilidade do IFRS, obrigatória a partir de 2010 por parte das empresas de capital aberto. Ainda não há consenso entre os especialistas de mercado, mas essas normas podem prejudicar vendas de carteiras para empresas do mesmo grupo, obrigando o banco a consolidá-la no balanço, o que, na prática, significaria a volta dos ativos para a instituição. Somente as carteiras vendidas para terceiros poderiam ser excluídas dos ativos.