Título: Plataforma juntará concorrentes
Autor: Góes, Francisco, Santos, Chico ; Schüffner, Cláud
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2008, Empresas, p. B8

A decisão da Petrobras, anunciada ontem, de fazer a plataforma P-62, para o campo de Roncador, na bacia de Campos-RJ, como clone da P-54, dispensando licitação, vai provocar a reaproximação de dois ex-sócios de peso. O estaleiro Mauá, controlado pelo grupo Synergy, de German Efromovich, e o Jurong Shipyard, de Cingapura, voltarão a ser parceiros para executar o projeto, embora já estejam operando como concorrentes no mercado.

A nova parceria para a P-62 se explica porque, para fazer uma plataforma gêmea, a Petrobras precisa legalmente repetir os contratos anteriores, no caso o da P-54, apenas atualizados. Desta forma, Efromovich, que tem uma longa história de contenciosos com a Petrobras, volta a fazer um negócio bilionário com a estatal. O mercado estima que a P-62 pode custar, no total, até US$ 1,3 bilhão e ser entregue em cerca de 34 meses.

O Valor apurou que, da mesma forma que ocorreu com a P-54, o Mauá deverá ser subcontratado pelo Jurong, o titular do contrato. Procurado, o grupo Jurong não respondeu à ligação da reportagem. Fontes da indústria dizem que a retomada da sociedade será pontual, não significando, a princípio, uma retomada da sociedade do Jurong com o grupo Synergy.

O grupo de Cingapura deve continuar procurando uma parceria no Brasil para negócios futuros. Na sociedade desfeita, o Jurong detinha 35% do capital do Mauá que foram vendidos para o grupo de Efromovich, hoje único dono do estaleiro e que irá hospedar a nova obra, conforme deixou claro pelo diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque: "Agora temos que sentar para discutir (preço, etc.) com o Jurong."

Segundo a Petrobras, a dispensa de licitação para a nova plataforma é assegurada pelo decreto nº 2.745, de 24 de agosto de 1998. Procedimento semelhante foi feito para a contratação da plataforma P-56, uma semi-submersível clone da P-51, contratada ao consórcio Keppel Fels Brasil, também de Cingapura, e a Technip Brasil (França). A P-56 será construída no estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis (RJ).

O desfecho do caso P-62 encerra uma polêmica dentro da Petrobras entre a área de serviços, partidária da clonagem e mais preocupada com o prazo e o índice de nacionalização da obra, e a área de exploração e produção, defensora de nova licitação com o argumento de que no exterior a plataforma sairia mais barata. A disputa foi noticiada pelo Valor na edição de 6 de março quando os metalúrgicos de Niterói, onde fica o estaleiro Mauá, se mobilizavam para pressionar a Petrobras a fazer o clone.

A P-54, que será copiada, custou US$ 900 milhões e sua obra demorou 41 meses. Ela entrou em operação no dia 11 de dezembro de 2007 e tem capacidade para processar até 180 mil barris de petróleo por dia.