Título: Falta de saneamento causa impacto no trabalho e escola, mostra pesquisa
Autor: Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2008, Brasil, p. A4

A falta de saneamento básico em 53% das residências brasileiras causa impacto indireto sobre o desempenho da população no trabalho e na escola. Segundo pesquisa do Instituto Trata Brasil, divulgada ontem, as pessoas que vivem em locais sem acesso a serviços de água e esgoto faltam 29,7% mais no trabalho devido a sintomas associados a doenças de transmissão hídrica, como diarréia e vômitos. Entre os estudantes sem acesso a rede de saneamento, a freqüência escolar chega a ser 2% menor do que entre os que possuem atendimento adequado dos serviços.

Para o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marcelo Neri, coordenador da pesquisa, a situação é agravada pela baixa cobertura de serviços de saúde entre as pessoas desprovida de rede de saneamento em suas casas, o que as faz depender do atendimento público. "Elas têm menos capacidade para lidar com os problemas de saúde gerados pela poluição hídrica", diz Neri. O levantamento mostra que apenas 13% desses indivíduos possuem planos de saúde, enquanto entre as pessoas atendidas por rede de esgoto esse percentual é de 33%.

Nas escolas, o impacto da falta de acesso à infra-estrutura de serviço de água e esgoto é mais perceptível na queda do aproveitamento dos alunos do que na presença. Os índices de reprovação são 46,7% menores entre as crianças e jovens que vivem em locais com instalações adequadas. O aproveitamento escolar como um todo chega a ser 30% menor entre as crianças que não têm acesso ao saneamento básico.

Segundo o diretor do Instituto Trata Brasil, Raul Pinho, a intenção da pesquisa é mapear os problemas e dar visibilidade. "A situação é de deficiência, e é preciso perceber os impactos que essa falta de investimento traz, inclusive para a economia", diz.

O estudo mostra que o investimento em obras no setor de saneamento básico ocupa a quinta posição entre os que mais geram empregos no país, atrás de agropecuária, agroindústria, administração pública e serviços privados, e à frente de setores intensivos em mão-de-obra, como o têxtil e a construção civil.

O impacto sobre a atividade turística também é abordado na pesquisa. Apesar da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) indicar que limpeza é o principal motivo de insatisfação dos turistas em relação ao destino de viagem, o levantamento realizado com 20 municípios litorâneos mostrou que os investimentos em saneamento básico estão abaixo do necessário para que os índices de atendimento evoluam de forma significativa.

Fora do padrão, uma cidade citada como exemplo bem sucedido é Salvador. De 1997 a 2006, a região metropolitana da capital baiana conseguir aumentar a cobertura de rede de esgoto de 32,3% das casas para 78,4%. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, por sua vez, a evolução no mesmo período foi de 52,4% para 62,3%. O economista Marcelo Neri lembra que os dois locais receberam no período grandes investimentos para despoluição de águas. "A diferença dos resultados mostra que a gestão é essencial para alavancar o setor, o que pode servir de lição para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)", diz Neri.