Título: Compra parcelada já supera 50%
Autor: Júnior, Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2008, Finanças, p. C1

Na esteira do forte crescimento do crédito, as compras parceladas no cartão de crédito explodiram nos últimos meses e já preocupam os bancos. No ano passado, 52% das compras com cartões, que movimentaram R$ 182 bilhões, vieram do parcelado sem juros. Em 2003, eram 42%, segundo estimativas da Itaucard. Em algumas regiões do país, como o Norte, as compras parceladas já respondem por 65% do total.

Não há estatísticas específicas sobre o parcelado sem juros (ou parcelado lojista, como também é conhecido). Números do Banco Central sobre as faturas de cartões em aberto - que incluem as compras à vista pagas em até 40 dias e as compras parceladas pelos lojistas - indicam que o crescimento do estoque foi de 54% no ano passado, para R$ 34,5 bilhões. Em relação a 2005, a alta foi de 85%.

Nesta modalidade de financiamento, o crédito é concedido diretamente pelo comerciante, normalmente estabelecimentos de maior porte, como lojas de departamento, empresas aéreas e shoppings centers. O banco assume o risco da operação e, em caso de inadimplência, arca com o prejuízo. A loja recebe do banco o valor do bem na proporção do número de parcelas. Ou seja, se vendeu uma televisão em dez vezes, também recebe o valor em dez vezes.

"O parcelado sem juros tem sido um dos fatores a impulsionar o crescimento do setor de cartões, principalmente nas regiões Norte e Nordeste", afirma Fernando Chacon, diretor de marketing de cartões da Itaucard. O setor vem crescendo anualmente 20%.

A outra modalidade de financiamento no cartão é o rotativo. Aqui, o cliente tem a opção de financiar no banco emissor o valor da fatura em parcelas. Os juros costumam ser bem mais altos que em outros financiamentos, por isso, esta modalidade vem registrado crescimento mais modesto. Os dados do BC mostram que o financiamento com juros no cartão (inclui o rotativo e compras parcelas com juros, estas uma minoria) fecharam 2007 em R$ 17,3 bilhões, aumento de 24% - a metade do crescimento do parcelado sem juros.

O forte crescimento do parcelado sem juros tem preocupado os bancos. "As compras explodiram, saíram do controle", diz um diretor de uma empresa do setor. Segundo esta fonte, os bancos pressionaram no final de 2007 as duas maiores bandeiras, Visa e MasterCard, para um aumento da remuneração deles nas transações de compras parceladas pelos lojistas. São as bandeiras que definem a remuneração delas e dos bancos emissores em cada transação.

Com base nesta definição, as empresas que credenciam os estabelecimentos comerciais para aceitarem os cartões (Redecard e Visanet) determinam que taxa será cobrada do lojista - que também vai incluir a remuneração destas empresas. Com a pressão, a MasterCard aumentou a remuneração nestas transações, segundo uma fonte qualificada. Assim, a Redecard reajustou seus preços ao varejo. Prova disso foi o protesto de comerciantes da região Sul há algumas semanas. Apesar de esta medida afetar principalmente estabelecimentos maiores, os protestos foram gerais. A mesma fonte fala que a Visanet fará movimento semelhante a partir de junho. Procuradas pelo Valor, as empresas não se pronunciaram.

Em geral, as taxas cobras dos lojistas variam de 1% a 5%. Quanto maior o estabelecimento, menor a taxa. Com o avanço do parcelado sem juros as coisas mudaram. Há quatro tipos de taxas sendo cobradas dos lojistas. Uma menor para o cartão de débito, na casa de 1%, e outra para transações à vista. Há ainda outras duas, mais altas, para compras parceladas que variam conforme a parcela - de duas a seis parcelas há uma taxa e acima de sete a taxa é ainda mais elevada.

Marcelo Noronha, diretor da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), diz que os bancos estão acompanhando com atenção a evolução do parcelado lojista. "Tem crescido bastante, influenciado por fatores como o aumento da massa salarial." Mas a preocupação, segundo ele, é com o grau de alavancagem das instituições, que têm que respeitar os princípios do Basiléia II, que impõem limites à expansão do crédito.