Título: Posição de câmbio nos bancos bate recorde e chega a US$ 9,78 bilhões
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2008, Finanças, p. C2

A posição de câmbio dos bancos fechou em US$ 9,783 bilhões em março, a maior da série estatística do Banco Central, que começa em 1994. A posição de câmbio dos bancos subiu porque as instituições financeiras absorveram o grosso do superávit do mercado de câmbio de março, que, segundo dados do BC, somou US$ 8,051 bilhões. As instituições financeiras ficaram com US$ 6,537 bilhões, e o BC comprou US$ 1,513 bilhão por meio de seus leilões de câmbio.

As compras de dólares pelos bancos no mercado à vista estão relacionadas a operações de arbitragens entre os juros internacionais e o cupom cambial pago no mercado futuro. Os bancos, de um lado, compraram maciçamente dólares no mercado à vista, mas, paralelamente, venderam dólares na Bolsa de Mercadoria & Futuros (BM&F).

Em fevereiro, investidores estrangeiros encerraram posições vendidas no mercado futuro de dólar e de cupom cambial, pressionando para baixo a cotação do dólar no mercado futuro. O cupom cambial caiu, oferecendo remuneração em dólar tão baixa quanto 3,5% ao ano em meados de fevereiro. Os bancos venderam dólares no mercado futuro, com custo referenciado pelo cupom cambial, e compraram dólares no mercado à vista para aplicar os recursos no exterior, com juros mais elevados. Dessa forma, alteraram sua posição em câmbio na BM&F, de comprados em câmbio para vendidos.

O saldo no mercado primário de câmbio, de US$ 8,051 bilhão, foi formado majoritariamente nas três primeiras semanas do mês. Dados divulgados anteriormente pelo BC mostram que, até o dia 10 de março, o saldo acumulado era de US$ 8,108 bilhões. Até aquela data, os bancos mantinham uma posição comprada em dólares ainda maior, de US$ 10,520 bilhões. Ou seja, de lá para cá, os bancos desovaram parte dos dólares que haviam absorvido anteriormente. Uma parte dos dólares foi usada para suprir o mercado de dólares, que foi deficitário em US$ 57 milhões do dia 20 de março ao fim do mês. Outra parte, US$ 681 milhões, foi comprada pelo BC.

A maior parte do superávit no mercado de câmbio foi criado no segmento comercial. As vendas de dólares feitas por exportadores superaram as aquisições de moeda estrangeira por importadores em US$ 6,663 bilhões.

O saldo contratado do comércio exterior, divulgado pelo BC, foi bem mais alentado do que o saldo comercial físico divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento, que foi de US$ 1,012 bilhão em março. Em parte, isso se deve ao fato de que exportadores anteciparam receitas de suas vendas ao exterior por meio de operações de financiamento.

Os exportadores venderam US$ 16,532 bilhões aos bancos em março. Desse total, cerca 47% estão vinculados a operações de Adiantamento sobre Contratos de Câmbio (ACCs) e pagamento antecipado de exportações. Uma parte dos exportadores antecipa receitas para investir na produção de bens a serem exportados, mas parte antecipa recursos para ganhar com as diferenças entre juros internos e externos.

Foi registrado superávit de US$ 1,388 bilhão no segmento de câmbio financeiro em março, no qual são feitas transações envolvendo ingresso e saída de capitais e pagamentos de serviços e rendas, como turismo internacional e remessa de lucros e dividendos ao exterior.