Título: Novo regime tributário faz estoque de vinho encolher e preço deve subir
Autor: Bueno , Sergio ; Malta , Cynthia
Fonte: Valor Econômico, 02/04/2008, Empresas, p. B4

A combinação de demanda em alta com a introdução do regime de substituição tributária em São Paulo traz preços mais altos para os apreciadores de vinhos e espumantes e uma reorganização do mercado desse tipo de bebida. De um lado, as vinícolas estão trabalhando a pleno vapor para dar conta do consumo e de outro, a mudança no sistema de arrecadação, que exige o recolhimento antecipado do ICMS, faz o varejo trabalhar com estoques menores para poupar capital de giro.

Depois de aumentar em 15% as vendas de espumantes em 2007, para 4,4 milhões de garrafas, a Salton, a maior do segmento no país, avançou mais 12% no primeiro trimestre deste ano, disse o presidente Ângelo Salton Neto. São Paulo responde por metade das vendas e, se não fosse o novo regime tributário em vigor desde o início de fevereiro, o crescimento poderia facilmente ter atingido os 15% nos três meses, afirmou Salton.

"Está todo mundo esperando para ver como a situação vai ficar", observou o empresário. Por enquanto, o varejo só está comprando produtos na medida exata da rotação dos estoques, mas um erro de avaliação pode provocar faltas temporárias de produtos específicos. Outra conseqüência negativa para os consumidores é o cancelamento de promoções, explicou Salton. "Minas Gerais fez a mesma coisa há dois anos e agora a situação lá está estabilizada".

O preço que o consumidor vai pagar por vinhos e espumantes em supermercados e restaurantes deve subir entre 20% e 30%, calcula o diretor comercial da importadora Expand, Rogério Ribas D'avila. A demanda, diz ele, está "superaquecida" e mesmo com a mudança no regime tributário, que exige uma reorganização na estrutura da empresa, a Expand não está desacelerando os negócios.

"O que teremos que fazer é abrir um depósito aqui em São Paulo pois os clientes, agora, querem receber as bebidas já com os impostos pagos", explicou o executivo. A direção da Expand, que também tem uma rede de 40 lojas, procura um armazém com área de aproximadamente 20 mil metros quadrados em São Paulo. O que a Expand fazia até agora é despachar, de seus depósitos no Rio de Janeiro e Espírito Santo, as bebidas importadas. Com o novo regime tributário, que exige a antecipação do pagamento do ICMS, a Expand passará a mandar a mercadoria para seu futuro armazém na cidade de São Paulo, onde vai recolher o imposto e, então, entregá-la aos clientes. "Para o cliente ficou mais fácil, mas para nós o fluxo de caixa encurtou", disse D'avila.

A importadora Grand Cru, especializada em vinhos chilenos e argentinos, até contratou uma consultoria tributária para começar a operar sob as novas regras decretadas pelo governo paulista. "O novo regime apertou financeiramente toda a cadeia. Isso é muito ruim, mas já estamos acostumados às mudanças constantes no Brasil", diz o sócio-diretor da Grand Cru Mariano Levy, que prevê aumento de 50% nas vendas deste ano.

Para o gerente comercial da Vinícola Perini em São Paulo, André Busarello, o mercado local vai levar de três a seis meses para absorver o novo regime tributário. "Vai haver uma freada no consumo", acredita. Mesmo assim, conforme o diretor comercial Franco Perini, a empresa não vai tirar o "pé do acelerador" na disputa pelo mercado paulista, que em 2008 deve responder por 10% das vendas totais da vinícola, ante 3% há três anos. "A mudança vai atingir a todos os fornecedores", comentou o executivo.

No ano passado a Perini vendeu 350 mil garrafas de espumantes com a marca própria, 84% a mais do que em 2006, e para 2008 a estimativa é de uma nova alta de pelo menos 40%, disse o diretor. Em São Paulo as vendas avançaram 66% em janeiro sobre o mesmo mês de 2007 e num período de 12 meses o número de clientes no Estado passou de menos de 100 para cerca de 700, informou Busarello.

O diretor nacional de vendas da Miolo, Márcio Bonilha, não viu impactos significativos da medida sobre as operações em São Paulo, que representam 32% dos negócios da empresa. Mais importante, segundo ele, é a forte expansão do consumo, que já provocou a falta do espumante Terranova Brut. Bonilha só vai retomar as entregas da linha Terranova Brut, suspensas no início de março, a partir do próximo dia 20 de abril.

"O mercado cresceu mais do que o planejado, mas não vamos acelerar a produção para não comprometer a qualidade", afirmou o diretor. As vendas totais da Miolo no mercado interno em 2007 alcançaram 1,5 milhão de garrafas, 40% a mais do que em 2006, informou o executivo. Para o acumulado deste ano, a expectativa é de uma expansão de 20% e no primeiro bimestre o índice já atingiu 43%, puxado principalmente pela linha Terranova, revelou Bonilha.