Título: Pedágio urbano pode ser bom negócio
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 02/04/2008, Empresas, p. B8

O sistema de pedágios para redução de tráfego e poluição nos centros das grandes cidades está se expandindo pelo mundo e abrindo um enorme potencial de negócios para as empresas de tecnologia e de gestão de estradas. "O gerenciamento de trânsito com a cobrança de pedágios é uma tendência que já chegou a 30 municípios na Europa, está para chegar a cinco nos Estados Unidos e acabará chegando à América do Sul", aposta Josef Czako, diretor de desenvolvimento de negócios internacionais da Kapsch, segunda maior do mundo em sistemas de telecomunicações para gerenciamento de tráfego nas estradas.

Czako falou ao Valor em um intervalo do seminário realizado ontem em Buenos Aires pela Associação Internacional de Pontes, Túneis e Rodovias Pedageadas (IBTTA na sigla em inglês), em que o pedágio urbano foi o tema principal. Fundada em 1892 em Viena, Áustria, para fabricar telefones, a Kapsch fatura 466 milhões e tem 2.450 empregados.

Com clientes em Santiago e Buenos Aires, Czako disse que ambas as prefeituras estão analisando a implantação de sistemas pedageados para reduzir os congestionamentos, mas que nenhuma conseguiu superar a etapa inicial e mais complicada: a decisão política de passar a cobrar pelo movimento das pessoas em suas cidades.

"Estamos acompanhando de perto essa questão", disse Harald Zwkoff, diretor de novos negócios do CCR, o maior grupo de concessões rodoviárias do Brasil, referindo-se às discussões sobre a implementação deste tipo de controle de trânsito em cidades como São Paulo e Buenos Aires. Segundo ele, a tecnologia não seria problema. No Brasil, diz ele, existe o Sem Parar, sistema instalado em 800 mil veículos, que permite agilizar e monitorar a cobrança de pedágios e que poderia ser ampliado.

As que conseguiram superar as resistências políticas e implantaram o sistema como Londres, Manchester, Oslo e Cingapura, conseguiram reduzir em até 80% o volume de tráfego no centro. No começo não foi nada fácil, relatou Jack Opiola, da Booz, Allen & Hamilton, empresa que participou de todo o processo de implementação do pedágio em Londres, onde cada cidadão paga 8 libras esterlinas (R$ 27,70) para andar com seu carro no centro da cidade. "Se você perguntar para as pessoas se elas concordam com a cobrança de pedágio na cidade, 70% vão responder que não". Para convencer a população, a melhor forma é reinvestir todo o dinheiro arrecadado com os pedágios nos transportes, disse Opiola.

A próxima grande cidade a adotar o pedágio, até o fim de 2008, será San Francisco, na Califórnia. O responsável pela implementação do projeto, José Luis Moscovich, diretor da agência estatal reguladora dos transportes da cidade, contou que consistirá em colocar uma cabine de pedágio na entrada da famosa ponte Golden Gate. Passar ao centro de carro vai custar de US$ 1,5 a US$ 2 por veículo. O projeto será financiado por um novo programa do governo americano que vai investir US$ 1,1 bilhão do orçamento federal para tentar resolver o problema do trânsito em outras cinco grandes cidades, entre elas Nova York e Chicago.