Título: Felaban quer bancarização "sustentável"
Autor: Vieira , Catherine
Fonte: Valor Econômico, 02/04/2008, Finanças, p. C5

O presidente da Federação Latinoamericana de Bancos, Fernando Pozo: "queremos montar o índice para refletir o nível de bancarização e poder ver como este indicador vai evoluir" Depois de promover alguns estudos sobre o nível de acesso das pessoas e empresas aos serviços financeiros, a Federação Latinoamericana de Bancos (Felaban) quer agora criar um Índice de Bancarização para América Latina. O objetivo será medir não apenas o grau de acesso, mas ainda se este evolui de maneira sustentável. "O que está ocorrendo nos Estados Unidos é um bom exemplo de que o acesso cresceu rapidamente, mas havia um problema com a sustentabilidade", diz Liliana Rojas, pesquisadora do Center for Global Development, que elaborou estudo para Felaban sobre o grau de bancarização na AL. "Definitivamente a crise de crédito nos EUA tinha como ser prevista, então não basta mostrar números robustos de expansão de crédito, é preciso olhar também a questão qualitativa, levando em conta aspectos macroeconômicos, regulatórios e institucionais", disse ela.

De acordo com o presidente da Felaban, Fernando Pozo, a entidade elegeu a bancarização como um dos quatro objetivos estratégicos. "Consolidamos os dados que estavam disponíveis e agora queremos montar o índice para refletir o nível de bancarização e poder ver como este indicador vai evoluir", diz Pozo. Segundo ele, inicialmente o índice envolverá cinco países, que podem ser Brasil, Equador, Peru, Colômbia e Venezuela, embora a lista não esteja totalmente definida.

Os principais dados sobre acesso bancário foram reunidos por Liliana Rojas no estudo "Promovendo o acesso aos serviços financeiros", cujos resultados foram detalhados ontem, na Associação dos Bancos do Rio de Janeiro (Aberj). A pesquisa confirma que o nível de acesso aos serviços bancários é baixo na região e evoluiu pouco nos últimos anos. A média de agências bancárias na AL ficou em 8,45 por 100 mil habitantes. Em 2004 era de 7,66. O Brasil em 2007 registrou média de 9,43, mas ainda é um nível baixo. Há quatro anos, a média nos países desenvolvidos já era de 30,6 por 100 mil habitantes.

Quando observado o número de caixas eletrônicos disponíveis, a média melhora, principalmente para o Brasil, que tem 32 caixas desse tipo para cada 100 mil habitantes, número muito superior à média da América Latina, que é de 14,98, porém ainda distante dos países desenvolvidos, cuja média era de 64,3 já em 2004.

"O Brasil é bastante evoluído em tecnologia bancária, o número de pessoas que usa serviços financeiros pela internet, por exemplo, é o dobro do que em outros países da região", destacou Liliana. Segundo ela, porém, o grande desafio para o país está em resolver a questão fiscal e também passa pela discussão dos depósitos compulsórios . "O Brasil precisa de uma urgente reforma fiscal, porque um dos principais entraves à bancarização é o excesso de impostos", observa.

A pesquisadora apontou uma certa dificuldade em conseguir dados de todos os países para todos os itens pesquisados. Por isso, por exemplo, usou o acesso a contas de poupança para medir a atual bancarização da região. No Brasil, esse índice seria de 43%, o que significa a porcentagem da população adulta que tem contas de poupança. Por esse indicador, o país mais bem posicionado seria o Chile, com 60%.

O estudo também constatou que não apenas entre as pessoas físicas o acesso aos serviços financeiros é baixo, mas também para as pequenas e médias empresas. "Os principais entraves apontados pelos bancos para elevar a penetração nesse segmento são de natureza social", conclui a pesquisadora.