Título: IPCA recua, mas núcleo permanece alto e mercado aposta em juro maior
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2005, Brasil, p. A2

A inflação de janeiro, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, recuou para 0,58%, o menor resultado em três meses - 0,28 ponto percentual abaixo da taxa de dezembro, de 0,86%. O IPCA situou-se dentro das expectativas do mercado, entre 0,60% a 0,55%. Na taxa de 12 meses o índice fechou em 7,41%, abaixo dos 7,60% acumulados até dezembro mas longe do centro da meta de inflação de 5,1% fixada pelo Banco Central. O arrefecimento do IPCA, ancorado principalmente nos preços administrados, que baixaram de 1,43% para 0,51%, com forte influência da gasolina e do álcool, acontece às vésperas da reunião do Copom que vai decidir sobre a nova taxa Selic de fevereiro.

A desaceleração da inflação não tranqüilizou o mercado, que elevou os juros futuros de seis meses em 0,2 ponto percentual, 19% para 19,20%. Elson Teles, economista e sócio da Fides Asset Management, atribui o comportamento pessimista do mercado ao fato de que o declínio da inflação cheia não foi acompanhado pelos núcleos, uma medida mais apurada dos preços, que apresentaram movimento inverso. Na média, os núcleos em janeiro variaram 0,60%, ante 0,66% em dezembro, apontando para um IPCA entre 7% a 7,5% em doze meses. O economista Ricardo Braule, que trabalha com o núcleo medido pela mediana das taxas de variação de produtos de mercado (excluindo-se dessa conta as tarifas e as anuidades), calculou um núcleo de 0,65% em janeiro, ante 0,48% em dezembro. A seu ver, esse resultado torna-se mais preocupante ao se constatar que, nos últimos 12 meses, apenas em fevereiro de 2004 o núcleo ficou abaixo de 0,42% ao mês, o que projeta, de forma consistente, taxa superior a 5,1% para 2005. O IBGE não calcula núcleo de inflação, mas Eulina Nunes da Cunha, coordenadora dos índices de preços do instituto, chamou a atenção para o fato de que nos últimos 12 meses a inflação do IPCA vem persistindo no patamar de 7%. "Os dados da série histórica dos últimos 12 meses mostram que a inflação está renitente e constante em torno de 7%". Segundo relatório do IBGE, em 1998 o IPCA fechou num patamar de 3%. Em 1999, ano da mudança cambial, subiu para 6,7% e chegou a 8%, aí permanecendo por doze meses. Em 2001/2002 se manteve em torno 7%. Em outubro de 2004 saltou novamente para 8% e em dezembro disparou, chegando a 12%, por conta do choque do câmbio durante o processo eleitoral. Em 2003, cedeu para algo próximo a 7% e, em 2004, permaneceu na casa dos 7%. A pesquisadora do IBGE aponta o aumento de insumos industriais como o aço, que impactou os preços dos seus derivados durante todo o ano passado, e a indexação dos preços administrados à inflação passada via contratos reajustados pelos IGPs, como os fatores responsáveis pela manutenção da inflação do varejo em níveis elevados, apesar da elevação dos juros. Em janeiro, segundo Eulina, a inflação poderia ter "desabado", não fosse a persistência da alta do aço repassada aos seus derivados, como os eletrodomésticos, automóveis novos e artigos de residência, que subiram 1,35%, 1,27% e 1,43% respectivamente, atrelada ao aumento das tarifas de energia elétrica.