Título: "O país precisa de recursos", afirma Furlan ao defender manutenção da TJLP"
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2005, Brasil, p. A4

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, deu apoio público ao presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, no conflito entre o ex-ministro do Planejamento e o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, que defendeu o aumento da taxa de juros de longo prazo (TJLP), referencial para o financiamento de grandes investimentos no país. "Tenho a mesma opinião do Guido Mantega, o país necessita desesperadamente de investimentos para aumentar a produção e a infra-estrutura", comentou. "E se vamos matar a única fonte de curto prazo, vamos comprometer nosso futuro." Furlan disse ter levado essa opinião ao presidente Luiz Inácio da Silva. Não quis contar a reação do presidente. "Ele ouviu minha opinião: a TJLP é razoável em relação ao nível de inflação do Brasil", disse. Furlan comparou a taxa de longo prazo brasileira à da Venezuela, que é negativa, por ser seis pontos percentuais inferior à inflação. "Não é esse o modelo que queremos para o Brasil; a TJLP representa 3% a 4% de juro real, mais spread (taxa de risco)." "O maior problema da TJLP não é baixar a taxa, é o spread, que não existe em nenhum lugar do mundo", comentou Furlan, lembrando que a taxa está em 11,75%, dos quais o spread corresponde a 6%. A discussão sobre o spread "muito elevado" poderá exigir uma revisão da estrutura tributária sobre os financiamentos, diz o ministro. Furlan minimizou mais uma vez o impacto da cotação do dólar sobre o comércio exterior brasileiro, em um sinal de que deixou, pelo menos publicamente, de avalizar as queixas dos empresários contra o suposto desestímulo às exportações provocado pela valorização do real - que aumentou custos dos produtores e reduziu os preços, em reais, dos produtos exportados. "O país está comprando dólares para suas reservas; e os mecanismos lançados pelo Banco Central teoricamente dão alento ao dólar", disse o ministro, mencionando as ações do BC nos mercados futuros de moeda estrangeira. Ao lhe lembrarem que essa intervenção não garantiu aumento nas cotações, Furlan comentou, bem-humorado, que a atuação do governo tem impedido uma queda maior. "Há aí uma certa estabilidade." A recuperação da cotação do dólar em relação ao euro também pode ter efeito favorável, acredita ele. Ao comentar que, apesar das queixas, há manifestações de forte ânimo para investir no setor privado, com aumento na demanda por financiamentos no BNDES o Furlan fez questão de elogiar o presidente do banco, que substituiu no fim do ano passado, o economista Carlos Lessa, após uma sucessão de desentendimentos com o ministro. "Funcionários do BNDES me relatam que o clima interno mudou muito, o ministro Mantega está botando um ritmo de motivação muito bons na equipe", disse ele. (SL)